Eu sempre tive contato com muitos campos da arte. Musica, escrita, desenho... Mas sempre via o teatro como um quarto escuro que eu não me atreveria entrar. Apenas com os meus dezessete anos a curiosidade falou mais alto e eu entrei no grupo de teatro do colégio.
Algo parecido tinha acontecido antes. Quando passei a escrever contos e meu tio, que é músico, me incentivou a fazer uso dessa boa relação com as palavras para compor. Foi difícil e foram necessárias algumas tentativas antes de surgir minha primeira composição.
Nunca tive problemas em falar em público, mas estava sentindo uma imensa dificuldade de improvisar e principalmente simular emoções no palco... Me faltava fé. Se nem mesmo eu acreditava no que estava encenando como fazer outras pessoas acreditarem? Descobri então eu era uma pessoa emocionalmente travada. Sempre bolando algo antes para não me expor completamente. Meus gestos, minhas falas, era tudo comedido. Passei a me sentir preso por esse filtro, essa auto-censura inconsciente. As vezes, apenas a intenção de evitar mascaras acaba criando mais uma.
Engraçado como o teatro te faz remexer nas coisas que você sufocou a vida toda. Como se fosse um baú que se abre, podendo agora se divertir com esses brinquedos a muito esquecidos. Arejando esse baú, acabamos por nos conhecer melhor. Nos sentimos mais completos ao ter essa intimidade com sigo mesmo e encarar o nosso lado sombrio.
Sempre comentava com as pessoas que eu sou do tipo que não pensa rápido. Dizia que não funcionava sobre pressão. Mas se houver tempo, poderia arquitetar um plano a prova de falhas. Com essa calma, refino minhas idéias. E esse é um momento muito pessoal, quase como uma meditação.
Certo dia, eu estava conversando com um amigo e algum comentário meu o fez dizer:
- Ah, esqueci que você está sempre um passo a frente de todo mundo. - Não dei muita atenção ao que ele tinha dito na hora. Mas agora me pergunto: Até que ponto estar um passo a frente dos outros é bom? Essa pressa pode me fazer tropeçar.
Hoje eu percebo que eu passo a maior parte do tempo no mundo das ideias e por lá, acabo me perdendo. Pensando sobre o futuro, as vezes sobre o passado. Esse hábito acaba me causando um sério problema de atenção, deixando passar coisas importantes do dia-a-dia.
Se você não tem controle sobre seus devaneios numa hora você pode chegar ao êxtase de tão empolgado da mesma forma que toda essa liberdade faz meus pensamentos e expectativas caminharem por caminhos pessimistas também.
O desapego budista trata exatamente sobre isso: Não criar muitas expectativas, dessa forma você não se frustra tão facilmente, deve-se aceitar tudo que vem como forma de aprendizado. A meditação seria a ferramenta ideal para desenvolver essa habilidade. Com a meditação você livra sua mente dos pensamentos inoportunos e passa a viver mais plenamente o presente. Essa seria a meditação oriental, com o objetivo de abster-se do pensar. Como dizem: "Orar é falar com Deus e meditar é escutar a Deus". Já a meditação que eu comentei antes ao elaborar meus planos se trataria de um conceito ocidental onde isso se define apenas como um momento de paz para organizar os pensamentos. Li já também que nas religiões cristãs existe uma tradição oculta de meditação. Técnicas esquecidas que poucos hoje em dia dão valor. Assim como a oração assumiu um papel quase que como o de um mantra, repetido aos montes, as vezes, sem mesmo compreenderem o que está sendo pronunciado. Ironicamente se eu meditasse mais da maneira oriental talvez eu já tivesse resolvido meus problemas e não estaria aqui comentando sobre eles e tentando analisá-los de maneira lógica.
Mas enfim, voltando as máscaras e traumas românticos... Um dia comentaram comigo que eu era meio frio. Mas já houve uma época em que eu fui mais romântico. Notei então que durante a vida toda, eu passei de um extremo a outro. Desde o jardim de infância, eu me apaixonava perdidamente pelas minhas coleguinhas. Levava flores e tudo mais. Mas nunca era correspondido. Talvez esse sentimento tenha sido muito precoce e por isso incompreendido. Sara, Bruna, Andressa, Beatriz, Nicole, Vanessa, Caroline...
Pode parecer meio ridículo comentar aqui sobre meus romances infantis, mas esse blog não foi feito apenas para entretê-lo. Isso pode vir a ser uma consequência se você, caro leitor, decida aproveitar o destrinçar de todas essas lembranças e sentimentos antigos. Isso, eu julgo fundamental para para compreender melhor quem sou eu hoje em dia.
Os anos foram passando e essas paixões ficando mais secretas. Como uma auto-defesa do meu subconsciente eu me fechei. Se revelar meus sentimentos não estava me fazendo bem, o jeito foi guardá-los apenas para mim e evitar o constrangimento e mágoa. Até o ponto em que eu perdi completamente a minha auto-confiança e a timidez passou a me controlar.
Me apaixonei mais uma vez, suspeitei por muito tempo ter sido a última. Isso foi por volta dos meus quatorze anos de idade. Compus até uma música e diferente do que todos acham não foi feita para ela, mas sim sobre o que eu estava passando por causa dela! Compus metade da música em um dia só, enquanto tocava guitarra pelado. A outra metade demorou mais, já que essa história não teve um final feliz e acabei inventando o resto para ficar do jeito que eu queria.
E o pior, essa frustração toda foi causada pela falta de iniciativa, coragem. Foi isso que me fez querer enfrentar esse problema de uma vez por todas. Aprendi a deixar o sentimento de lado e fui atras de outras perspectivas. Ver como é estar do outro lado da moeda. O lado de quem rejeita e brinca com os sentimentos alheios. Segui aquela frase que diz que relacionamentos não passam de jogos: "Hold my hand while I hold your attention".
Passado algum tempo busquei até desenvolver algumas relações. No entanto, não duraram muito e observei que era difícil para mim manter aquele sentimento inicial de interesse e curiosidade. Encontrava sempre um defeito que serviria como desculpa para terminar. Suspeito que tenha sido, em função deste trauma já mencionado.
Sentia como se meu coração estivesse defeituoso. Mas não seria a paixão nada mais do que uma ilusão que te faz ver tudo mais bonito e colorido, te deixando todo alegre e abobado? Talvez eu simplesmente não me iludisse mais com tanta facilidade.
Ha algum um tempo atrás parecia impossível decifrar meus sentimentos. Tudo parecia confuso: raiva, tristeza, alegria, paixão... Só percebo que em alguns momentos encontro a paz e a serenidade. Fora a isso meu universo sentimental era caótico.
Mas percebo hoje em dia que o amor se transforma. O tipo de amor que eu sentia quando criança não é o mesmo de quando adolescente e agora, tenho que me familiarizar com esse novo modo de amar...
Sem dúvida alguma o teatro me ajudou muito a lidar com esse meu lado mais prejudicado. Expressar melhor meus sentimentos e ser uma pessoa mais espontânea.
Você deve aprender expor suas ideias através de códigos, da fala, movimentos corporais e afeições. Se utilizam das memórias afetivas para incorporar verdade nas situações fictícias, fictícias só para alguns. Porque para o ator e grande parte do público a encenação é bem real, pelo menos enquanto dura.
Aprendi que existe toda uma preparação para vestir a máscara do seu papel assim como é necessário depois remove-la, e voltar para seu eixo.
Comecei também a improvisar versando. Eu e meus amigos começamos a fazer rodas de rima com um violão, "beatbox" e até mesmo batidas de hip hop. Isso com certeza arejava minha mente como as improvisações do teatro. Deve-se limpar a mente, ter foco e fé no que se faz, observar o ambiente, o presente e versar sobre o que eu enxergava.
Dois meses antes de realizar uma viagem por um ano para a Nova Zelândia eu comecei a namorar, ignorando aquelas desculpas que o meu "Eu" medroso encontrava para não se relacionar. Mesmo sendo difícil eu consegui me abrir um pouco, tive momentos incríveis e me apaixonei. Aí fica meu conselho para quem quem for fazer as malas algum dia: Não deixe de aproveitar o presente pensando no futuro da mesma forma que você não vai querer deixar de aproveitar o futuro pensando no passado.
Nos primeiros meses da minha viagem, utilizei a máscara de que tinha tudo sob o controle. Até o momento logo antes de uma corrida de 12 horas que a pressão saiu do controle, me vi sozinho em uma terra distante e só queria meus pais para me dar uma força. Ao tentar explicar ao meu amigo o que estava sentindo nenhuma palavra saiu e lágrimas assumiram o lugar. Foi o primeiro baque da viagem me fazendo rever toda a minha forma de agir e me relacionar.
Durante essa viagem existiram algumas pessoas que cativaram minha atenção eu eu estava mais suscetível a captar essas nuances nas relações.
Observava meu comportamento durante essa viagem e tive grandes aprendizados. No início trabalhei bastante o lado de escutar e manter comentários para mim. Até porque eu ainda não dominava o inglês perfeitamente e podia ser facilmente mal compreendido. Fazia isso em função de um bom convívio social. No entanto mais tarde eu fui me atentando que eu estava deixando muitas situações passarem pelas minhas mãos. Por isso eu comecei a me preocupar em falar mais espontaneamente o que passava na minha mente principalmente quando o ano de repente começou a passar mais depressa e eu via cada oportunidade como última.
Em um dado momento tive mais reflexões sobre as nossas máscaras. Me perguntei porque eu tinha tal personalidade, gostos e me vi refém de uma caricatura. Me perguntei quem de fato eu era, não soube responder e o pânico tomou conta de mim. Com o tempo esse medo foi diminuindo mas ainda restava aquela coceira atras da orelha.
Já no final da minha experiência enquanto fazia um mochilão antes de voltar ao Brasil visitei um grande amigo meu na capital do país. Conversando com ele, me fez perceber que todos usamos máscaras. Desse fato, eu já sabia "Todos usamos máscaras para nos relacionar em sociedade". Mas ele me fez compreender além disso. Existe quem nós pensamos que somos, quem a sociedade pensa que somos e quem realmente somos, o que se senta ao lado dos arquétipos. Quem pensamos que somos é influenciado pela visão da sociedade sobre nós, mas do mesmo jeito essa mascara ainda é a nossa ferramenta, é disso que o meu amigo se referia. Apesar dos defeitos, é através dela que deixamos nossa marca aqui nesse plano. O lance é entrar no jogo mas sempre consciente de que lado você está. A diferença entre todas as pessoas é o que move suas mascaras. Qual ideal de vida que você constrói usando seus bracinhos de madeira? Se for sincero consigo mesmo, provavelmente vai ganhar o privilégio de ser uma criança de verdade e não mais um mero marionete narigudo.
Até Jesus ou Buda, também assumiram uma mascara. Se você tem uma visão mais espiritual imagine: Como uma entidade etérea poderia atuar em um plano material? Primeiramente incorporando de um corpo material, se apropriando de todos os seus defeitos, limitações e máscaras.
Com certeza fiquei mais tranquilo com relação as minhas máscaras, o que sempre foi um dilema ao tentar descobrir quem eu sou e acabei chegando a conclusão que você é o que faz. "Ações", não existe nada mais do que o verbo nessa dimensão e o tempo segue como maestro dessa sinfonia de mudanças.
Voltando ao Brasil e houve complicações quanto ao namoro que ficou em aberto desde quando eu viajei. Foi a segunda e última vez que chorei no ano de 2013. Então inconformado com essa situação me confortei nos braços de outro romance que também não teve um fim como esperado.
Alguns dias depois estava no ônibus pensando sobre a minha vida amorosa e me dei conta que estava no fim ou começo de um novo ciclo. Depois de passar de "romântico" para "tímido amedrontado pela rejeição" depois para "coração de pedra galanteador" e então novamente ter meu coração amolecido e entristecido me vi com uma decisão em mãos: Me fechar novamente ou continuar vulnerável a futuras mágoas? Talvez a resposta seja encontrar um meio termo e escapar dessa maldição que é oscilar entre extremos. Talvez entrar no "jogo" do relacionamento mas não lacrar meu coração a vácuo e ficar atento para não desperdiçar um bom relacionamento. Afinal as máscaras são repletas de defeitos, mas se você guarda boas intenções por traz da sua está tudo bem.
Erik Schnabel