quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Reflexões na madrugada de uma quinta feira sobre a conduta do ser humano nas relações humanas em desrespeito à sua espiritualidade

Crença, fé, verdade e opinião. Qual é o real significado dessas palavras? Elas sempre criaram muita polêmica.
Dois caras numa discução, onde cada um apresenta sua opinião, podem acabar chegando num meio termo. Porém quando cada um tenta impor suas verdades, nunca vão se intender. A pessoa deixa de ser flexível por que a verdade é dura. Verdades são moldadas de acordo com as experiências de vida de cada um, ou imposta de alguma forma. Quando alguém duvida, provavelmente a pessoa questionada se sentirá ofendida, pois foi aquela regra que sempre regeu sua vida.
Crança e fé, estão sempre relacionadas à religião ou espiritualidade. São respostas para essas questões existencialistas como o sentido da vida e o que vem depois da morte. Essas foram criadas para quem não quer conviver com essa incógnita, para se proteger do abismo que é o desconhecimento do ser humano.
Geralmente as crenças são um modelo a ser seguido, simplesmente porque é mais facil obedecer uma fórmula do que enfrentar cara-a-cara profundas reflexões que podem até abalar seu ego.
Eu particularmente, estou construindo minha própria crença, com o intuito responder essas perguntas. Tomo como base minhas próprias experiências com o sobrenatural ou trancendente, o mistério que habita cada um de nós.
Eu pesquisei sobre diversas religiões e tomei para minha vida alguns pontos que eu achei interessante. De vez em quando mergulho em reflexões sobre esse tema, sozinho ou em algum debate, mas sempre acolhendo alguma idéia que eu considere plausível.
Fé, é o ato de esperar, esperança.
Caro leitor, saiba que eu sinto uma imensa dificuldade ao tentar definir todas essas palavras, mesmo compartilhando apenas o significado que elas têm para mim.
Tento compratilhar minhas reflexões aqui nesse blog. Porém, muitas vezes na hora de escrever, passar do mundo das ideias, para algo tangível (tembém porque nesse caso se trate de um assunto muito complexo) eu acabo entrando em contradição, em conflito e vou construindo e reconstruindo meus argumentos. Da mesma maneira que com algum comentário ou sujestão de alguém, eu posso mudar meu olhar e minha opinião.
Já me perguntaram se eu acho possivel um dia não existir mais conflitos religiosos. Na minha opinião é melhor deixar a cargo da ciência decidir esse "meio termo", pois a verdade deve ser algo palpável e não criada em cima de suposições. A ciência é o caminho, pelo menos hoje em dia, mais confiável. Ela se baseia nos fatos, fenômenos analizados pela razão.
Deve-se então utilizar de suas crenças para se confortar diante essas questões ainda não respondidas. Porém sempre levar consigo os princípios da alteridade, aprender com  próximo, absorver conhecimento do próximo. Não apenas tolerar a existência de uma outra visão de mundo mas tomá-la para si também como caminho para evolução.
Eu aprendi à muito tempo, que não precisamos bater de frente com a opinião alheia, você pode apenas apresentar seu ponto de vista e deixar que os outros decidam aproveitar ou não do que você tem para oferecer.
Nós vivemos em um mundo muito pré-conceituoso. Justamente porque as pessoas foram condicionadas a crer que só existe a verdade e a mentira, quando na realidade existem INFINITAS POSSIBILIDADES.
Aí que entra um aspecto muito importante, o papel da HUMILDADE nas relações humanas. Aceitar que a sua filosofia de vida nao é absoluta, você está em constante aprendizado e pode mudar. É o conhecimento que abre fronteiras.
Por fim meu conselho é: ABRA A SUA MENTE!

Erik Schnabel

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Masenus

 quando todos estão rindo
e derrepente se calam, 
que o silencio me aflige

É quando estou rodeado de amigos
e depois fico sozinho
que a solidão me abate

E eu caminho por ai 
com um sorriso falso na boca 
que me incomoda
profundamente

É nessa hora 
que eu me pergunto
se eu nao perdi
alguma coisa pelo caminho"


Erik Schnabel

Artes Marciais - Ninjutsu

Eu treinei Ninjutsu desde o final de 2007, interrompi a pratica durante algum tempo, mas pude praticar por volta de 2 anos e meio.
Agora devido a problemas na escola serei obrigado a abandonar, pelo menos durante um tempo, essa pratica tao valiosa para mim.
O ninjutsu foi de grande importancia na minha vida, me fez melhorar meus hábitos alimentares, descobrir a importancia do exercício físico e de enxergar a arte marcial como filosofia de vida.
No colégio eu realizei um trabalho de educação física cujo tema deveria ser artes marciais. Resolvi posta-lo aqui em homenagem a tudo que eu aprendi com o Ninjutsu, meu professor e meus colegas em relação o real significado de arte marcial.



"Pode-se chamar de arte marcial qualquer conjunto de técnicas de combate que sustente uma filosofia que busque o refinamento espiritual. Antigamente eram destinadas para a guerra, mas hoje em dia a maioria das modalidades visa o combate em forma de competição.
Ninjutsu e uma arte marcial baseada na filosofia da persistencia, de se superar e vencer todos os obstaculos atravez de uma mente firme e focada.
Trata-se de encontrar eficiencia no combate. Trabalhar força e agilidade, mas nao deixar de lado preparo mental para enfrentar a tensao da luta.
Os ninjas se baseavam fortemente na estrategia, tudo era feito apartir do estudo e observacao. Eles tiveram grande influencia do tratado "A arte da guerra" escrito por Sun Tzu. Da mesma forma que o conhecimento dos monges Yamabushi, que realizavam intensas meditações, praticas físicas e rituais, também contribuiram imensamente para o surgimento do ninjutsu.
Com diversas influencias, as técnicas ninja agregavam cada vez mais conhecimento que lhes fosse eficaz ou útil. Por esse motivo que é possível um praticante de Ninjusu enfrentar praticantes de diversos estilos sem sair na desvantagem.
Contudo, para adquirir mais destreza na luta nao e necessário sacrificar a própria saúde. Pior ainda são os prejuízos emocionais causados pelo treinamento desequilibrado, a arrogância e a irritabilidade de alguns lutadores devido ao seu fraco desenvolvimento pessoal.
Diferente de muitas artes marciais hoje em dia, o Ninjutsu não pode ser considerado esporte. Pois nele nao existe competição. As técnicas aprendidas sao aplicadas em lutas, onde quase tudo e válido mas não se declara um vencedor, apenas são reconhecidos os que lutaram bem.
Para utilizar com eficiência suas habilidades e técnicas de combate, nas lutas deve-se sempre permanecer relaxado e calmo.
A arte ninja como qualquer outra arte marcial deve ser usada para encontrar a harmonia, fortalecer a mente o corpo e o espirito. Desse modo será possível trilhar um caminho de paz, se relacionar bem consigo mesmo e com o próximo.''


Erik Schanbel










Fontes: A leitura dos livros ''Ninjutsu a arte da guerra das sombras'' e ''O guia completo de Tai Chi Chuan''


 

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Insegurança






"O maior erro que podemos cometer, é ficar o tempo todo com medo de cometer algum"

William Shakespeare

Pra mim, esse e o ditado mais filho da puta que existe, é facil falar mas incrívelmente dificil de seguir.
O pior é que você é obrigado a enfrentar esse medo caso queira ser feliz algum dia. É necessario quebrar essa barreira que vai ficando mais alta a cada dia que você aprisiona seus desejos e ambições dentro de si.
Foi esse medo que me assombrou a vida toda e sempre que tem uma oportunidade, tenta sugar minhas esperanças.
Como se livrar do medo? Eu venho procurando uma resposta para esse dilema a vida toda e ainda não encontrei...
Talvez não se trate de perder o medo, mas de enfrentá-lo, fechar os olhos e seguir em frente.

Mesmo assim ainda me falta a coragem para dar o primeiro passo...


Erik Schnabel

terça-feira, 21 de abril de 2009

A gota d'agua


Acordei repentinamente. Olhei em volta do meu quarto e fiquei aliviado ao saber que toda aquela experiência horripilante tinha sido apenas um sonho ruim.
Me levantei da cama muito dolorido. Meu colega de quarto, Arthur já tinha saído para tomar o café da manhã. Então depois de passar uma água no rosto, me dirigi ao refeitório.
Logo que me acomodei à mesa, Arthur veio me provocar. Sentou-se do meu lado e pegou uma torrada da minha bandeija.
- Como passou a noite fernandinho? – Zombou Arthur.
- Eu não quero confusão! Se já não bastasse ser seu colega de quarto, ainda tenho que aturar essas brincadeirinhas. – Irritado, levantei-me e puxei a torrada da mão de Arthur antes que ele pudesse colocá-la na boca. Fui sentar-me em outra mesa sozinho.
Por incrível que pareça, nós dois somos muito parecidos. Temos os mesmos objetivos e telvez fosse por isso que somos tão competitivos e acabamos por nos desentender.
Mas eu tinha preocupações mais importantes do que confrontar Arthur.
Voltei meus pensamentos para Mariana, a filha do zelador do internato.
Apalpei meu bolso esquerdo, que continha as mais valiosas anotações da escola.
“Venho trabalhando nesse poema faz semanas e será a chave do coração de Mariana”, pensei.
Já era noite e era hora de todos se recolherem para seus dormitórios. Ao chegar no quarto, vi que Arthur já estava na cama coberto até a cabeça. O que era muito estranho, porque ele não costuma dormir tão cedo. Pensei que ele poderia estar doente.
Eu saí sorrateiramente pela janela para não acordar Arthur de quarto e não chamar atenção de nenhum dos bedéis. Desci pela calha, e fui até o quarto de Mariana, que fica nos fundos da escola, na dependência dos empregados.
Toc, Toc, Toc
- Quem é? – Sussurou uma voz meio assustada.
- Sou eu! Fernando Augusto! – Respondi.
Percebi uma certa agitação dentro do quarto, talvez fosse um sinal de que ela estivesse nervosa com a minha visita, que talvez ela realmente gostasse de mim.
Olhei por trás dos ombros apreensivo, porque se alguém me encontrasse aqui, eu estaria em apuros.
Quando ouvi a porta destrancar, rapidamente ajeitei meu cabelo.
Mariana abriu a porta apenas o suficiente para mostrar seu rosto.
- Fernando, eu estou meio ocupada agora...
- Não posso esperar mais – Interrompi – Se eu não falar com você agora, talvez eu não tenha coragem para falar depois.
Puz a mão no bolso para retirar meu poema, mas ouvi um ruído vindo de dentro do quarto.
“Ora, Mariana não tem colegas de quarto”, pensei.
Desconfiado dei um empurrão na porta que Mariana segurava e vi Arthur sentado ao pé da cama do meu único e verdadeiro amor.
- Fernando... Espere... – Suplicou Mariana.
Sem dizer uma palavra, enxuguei uma única lágrima que escorreu dos meus olhos e corri o mais depressa possível sem olhar para tráz.
Estava determinado a me vingar. Toda a paixão que residia no meu peito fora substituída por ódio. E como era meu ódio por Arthur Virgolino. E como eu poderia continuar a desejar uma garota que já esteve nos braços de tal infeliz?
Cheguei no meu quarto e joguei minha declaração de amor sobre a mesa. Um lápis rolou e caiu no chão.
Puxei o cobertor que cobria as almofadas na cama de arthur.
Toda noite antes de dormir, Arthur beijava uma foto de sua mãe. Se meu maior sonho foi destruído, eu destruirei suas mais importantes lembranças.
À procura da bendita foto, revirei o quarto todo. As encontrei dentro de uma caixinha de madeira escondidas em seu armário. Eu o aguardava ansiosamente e quando Arthur finalmente chegou no nosso quarto, se surpreendeu ao me ver sentado sobre sua cama. Os raios da Lua iluminavam seu rosto petrificado, e o meu isqueiro iluminava a foto de sua querida mãe.
- Não a queime! Implorou.
Eu me levantei.
- Onde está toda a sua valentia agora?
- Desculpe pelas brincadeiras que eu fiz com você, eu juro que paro! Mas não a queime!
- Você roubou a minha namorada! Você quer competir em qualquer coisa que eu faço! Destruiu meus sonhos!
- Como assim? Se acalme!
Pude ver claramente que a expressão de Arthur mudou. Não apenas sua expressão, mas seu rosto também. Ele tinha assumido a minha forma!
Os angustiantes sentimentos que vivi em meu pesadelo noite passada, pesaram sobre meus ombros. Eu perdi o equilíbrio. Deixei cair no chão as fotos e o meu isqueiro. Tentei me apoiar sobre a mesa.
Olhei novamente para Arthur, que agora me desafiava com um olhar ameaçador. O quarto começou a girar ao meu redor. Eu caí de joelhos e pensava se tudo isso poderia não passar de uma alucinação.
Arthur se aproximava sussurrando:
- As fotos da minha mãe... - Então peguei um lápis do chão e numa última investida desesperada contra meu inimigo perdi a consciência.
Despertei atordoado sobre uma maca, com os braços e pernas presos.
Uma lâmpada muito forte ofuscava meu olho, pois um deles estava tapado.
- Aonde eu estou? – Perguntei.
- Parece que ele está recobrando a consciência. – Comentavam vozes distantes.
Um dos homem se pôs em frente à forte luz.
- Arthur, eu sou o doutor Octávio Cirqueira. Devo lhe informar...
- Arthur? Meu nome é Fernando, Fernando Augusto!
- Devo lhe informar – O homem continuou - Que conseguimos executar a cirurgia sem maiores danos.
- Como assim?
- Não existe nenhum Fenando! Você se auto flagelou perdendo a visão do olho esquerdo. Por sorte, o lápis não ultrapassou a cavidade ocular.
- Espere! Deve ser um engano! Isso é bobagem!
- Vamos encaminlhá-lo à uma clínica psiquiátrica depois de sua recuperação.
- Deve ser um engano! Eu não sou Arthur!
O doutor ignorou meus
gritos e foi embora junto com as outras pessoas, deixando-me sozinho, naquela fria e assustadora sala.
Erik Barros

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Belizário



- Sr. Belizário, já vou indo está bem? - Informou Clarisse, minha secretária. - O Sr. vai embora junto comigo?
- Não. Tenho que terminar esse relatório o mais rápido possível!
- Mas amanhã é seu dia de folga Senhor.
- Por isso mesmo! Tenho que terminar antes que o Emerson pise no escritório de manhã!
- Você tem trabalhado muito ultimamente. Todo dia hora extra, trabalha nos finais de semana... Realmente Sr. Belizário... Estou muito preocupada!
Balancei a cabeça dirigi minha atenção ao computador.
Clarisse se despediu antes de sair da sala:
- Até segunda!
- Até... - Respondi ainda com os olhos vidrados no monitor.
Depois da saída de Clarisse, o ambiente ficou incomodamente silencioso. Eu trabalhava na penumbra, tinha apenas uma fraca iluminação do abajur.
O escritório de advocacia Ernesto Barbosa, defende casos de violência à mulher, idosos e crianças.
O caso que venho trabalhando atualmente, é sobre uma denúncia de que um senador agredia sua esposa. Se fosse confirmado, o tal senador poderia pegar de 2 a 3 anos na cadeia.
Passaram-se duas horas desde que fiquei sozinho no escritório mergulhado no trabalho. Quando finalmente terminei, bocegei me alongando e olhei para meu meu relógio.
"4:00, putz... Líggia vai deve estar preocupadíssima", pensei.
Botei meu casaco e peguei as chaves do carro enquanto o computador desligava. O abajur começou a falhar até apagar por completo. A sala ficou completamente escura.
" Perfeito! Agora tenho que tatear as paredes até a saída", ironizei comigo mesmo. Nesse momento escutei um barulho muito estranho. Parecia que algum objeto tinha se quebrado. Decidi averiguar.
Escutei passos pesados e cochichos. Fui seguindo o barulho pelo corredor, da forma mais silenciosa possível me orientando pela parede. O cochicho se tornou uma conversa e a medida que as palavras tomavam forma eu ficava mais apreensivo. Percebi uma luz da última sala no final do corredor. Passei por mais 3 portas e a luz já estava mais forte, porém variava de intensidade.
Ao chegar na última porta fui surpreendido com a luz diretamente no meu rosto. Coloquei a mão na frente da luz e perguntei vorazmente:
- Quem está aí?
Como resposta uma forte explosão me atirou ao chão desmaiado. Quando despertei, muito confuso, notei que já era de manhã.
Senti um amargo cheiro de ferrugem. Fora a isso, aparentemente, tudo estava no lugar. Me sentia muito estranho ao tentar lembrar da noite passada.
"Será que foi um sonho? O que realmente aconteceu? Devo estar trabalhando demais", pensei.
Saí do escritório e fui depressa ver meus filhos e minha mulher que deviam estar muito preocupados. "Já deve estar na hora de levá-los para escola"
Chegando em casa, abri a porta e vi minha mulher de costas falando ao telefone. O choro a fazia tropeçar nas palavras:
- Então ele não voltou com você?... Mas você não... Sim!... Exato! É justamente por isso que eu te liguei! Mas ele não chegou! Isso... Obrigada... Tá... Tchau.
Líggia desligou o telefone, se virou. Estava descabelada como quem não tivesse dormido. Estava olhando pro chão desamparada, mas ao levantar a cabeça me fitou com olhos eufóricos e avermelhados. Ela sorriu por um instante, mas ficou séria repentinamente. Sentou-se no sofá, cobriu o rosto com as mãos e se pôs a chorar bem baixinho, como se quisesse segurar as lágrimas. Soluçando, lamentou:
- Eu disse que não deveríamos ter vindo pra São Paulo, é uma cidade muito perigosa!
Me sentei ao seu lado a envolvi em meus braços:
- Querida, me desculpe! Isso nunca mais vai se repetir! Eu cai no sono, mas estou bem, não é culpa da cidade, a culpa é minha. Eu sempre trabalhei demais, mas prometo que vou pegar mais leve. E as crianças, você as levou pra escola?
Líggia calou seus prantos, mas fingia ainda não me escutar e não me respondeu. As vezes o silêncio diz mais que mil palavras.
- Eu sei que hoje era meu dia de levar as crianças pro colégio... Mas acontece! 
Eu me senti mal por ter causado tanta preocupação e ter falhado em uma das minhas responsabilidades. Líggia sofre de ansiedade e tem problemas em dirigir em horário de rush.
Me levantei e fui tomar um banho para relaxar e pensar numa maneira de recompensar minha mulher. Passei pelo quarto dos meus filhos e a porta estava aberta, vi suas camas ainda bagunçadas e vazias. "As crianças devem ter perguntado para a mãe sobre mim e ela não sabia o que dizer... Provavelmente inventou alguma coisa para acalmá-los." 
Enquanto me vestia sentado na cama, olhei para o relógio da cabeceira. Meus olhos embaçaram, esfreguei com o punho, mas mesmo assim não pude ver as horas.
Pensei que Liggia devia estar mais calma. Eu estava na cozinha bebendo um café e perguntei alto, para que ela escutasse da sala:
- Podemos almoçar fora hoje o que acha? Todos juntos, posso buscar as crianças e te encontrar no japa aqui da esquina.
- Não! - Respondeu Líggia da sala.
- Não? Mas você adora aquele restaurante...
- Não! Não! Não! Não! - Repetia agora freneticamente. Fui até a sala em pulos, muito assustado com a reação de minha mulher. Vi o telefone caindo no chão e balançando pendurado pelo fio.
- Não é possível! Não pode ser! - Líggia continuou gritando andando em círculos.
- O que foi? - Perguntei exaltado. Sabia que algo mais tinha acontecido, algo que ela não queria me dizer.
- Liggía! Aconteceu algo com as crianças? Eu exigo que você me explique agora o que esta acontecendo nesta casa! - Insisti. - Está agindo feito louca! - Aguardei um instante para ver sua reação, sabia que poderia ficar ofendida com o que disse. Ela odeia ser chamada de louca.
Inesperadamente, saiu correndo de casa foi para a garagem e entrou no carro. A segui e bati no vidro, pedindo que tivesse calma para conversarmos. Ela olhou pra mim, com um olhar perdido. Achei que tinha ouvido a voz da razão.
- Querida... saia do carro... - Eu comecei a rir da situação e fechei os olhos por um instante balançando a cabeça. Fui surpreendido com a ignição do carro e com uma arrancada Líggia saiu de ré pela garagem. 
Eu estava em choque, peguei minhas chaves entrei no meu carro e fui atrás dela, já estava puto com toda essa situação! Alcancei seu carro e a acompanhava pelas ruas da avenida Paulista. Tentava lembrar dos conselhos que nosso terapeuta havia me dado na última consulta, sobre as crises de ansiedade de Líggia mas nada me vinha a cabeça, nunca tinham sido tão extremas. Procurei o cartão do doutor Tuckman na carteira e tentei ligar para ele, mas caia na caixa de mensagem. A segui de carro por mais 15 minutos. Pensei que estivesse seguindo para o colégio dos meninos, mas me surpreendi ao perceber que estávamos a caminho do prédio do meu escritório.
"A última coisa que quero hoje é voltar ao lugar onde trabalho no meu dia de folga!", resmungava.
Ao descer do carro, corri para alcança-lá e pegamos o elevador juntos.
Ela ficou calada e muito séria, eu não soube o que dizer, estava muito confuso. Eu esperava que chegando ao nosso andar, Líggia veria o escritório fechado e cairia na real.
Sentia um frio na barriga que aumentava a medida que o elevador subia.
Saindo do elevador, fiquei surpreso ao ver a porta aberta do meu escritório e caminhamos pelo longo corredor. Suspeitei que pudesse ser dia de fachina.
Imaginava que ela fosse entrar na minha sala, mas Líggia passou direto. Eu estava logo atrás dela, bastante curioso para saber até onde isso ia chegar. Notei certa movimentação na última sala. Sentia uma forte dor de cabeça enquanto flashs da noite passada vinham na minha mente.
Ao chegar lá, vi vários policiais e Clarisse, minha secretária. Todos de cabeça baixa, melancólicos. Um dos policiais falou pelo radio com uma voz ríspida:
-Isso, encontramos o corpo. Parece que foi vítima dos bandidos que invadiram o escritório noite passada. Câmbio.
Olhei ao redor da sala toda bagunçada, papéis espalhados pelo chão junto a cacos de vidro e com as paredes sujas de sangue.
Abaixei a cabeça e levei um susto! Vi um homem, com o peito arrebentado por uma bala, deitado sobre uma imensa poça de sangue que chegava até meus pés.
"Meu Deus! Pobre homem!", pensei abalado. "Dona Ivete não vai gostar nem um pouco de limpar essa sujeira..."

Erik Schnabel

sábado, 10 de janeiro de 2009

Um Olhar Ingênuo


Estou no meu berço, distraído com meu bonito móbile pendurado sobre minha cabeça.
Entregando-me pouco-a-pouco ao sono que chega sorrateiramente, me guiando a caminho dos meus belos sonhos.
Acordei sob ressaltado ao escutar a barulhenta chagada dos meus pais. Ponho-me a chorar.
Minha nana se despediu dos dois, tentando não interferir na discução, mas eles não responderam. Então ela saiu rapidamente pela porta.
Meus pais trouxeram uma grande quantidade fumaça com eles. Que se espalhou rapidamente pela casa.
Apoiado nas grades de meu pequeno berço, me levantei com certa dificuldade e fico em pé, só com a cabeça fora do alcance das grades. Choro mais alto para chamar atenção deles. Mas eles me ignoram e continuam gritando e discutindo. E eu observava pela minha porta:
- Você não devia ter dito aquilo! - Gritou minha mãe.
- Pelo amor de deus, você me envergonha na frente dos meus amigos! Sua louca, só fala merda! Eu não preciso disso...
- Você acha que eles são realmente gostam de você? Só estão com você pelo seu cargo! Eu sou a única que sempre está do seu lado!
- E que grande ajuda você me traz!
- Ah é? Vamos ver então como você se vira sem mim!
Vejo uma fumaça negra saindo da boca dos dois. Parece que fica mais espessa a cada frase pronunciada por cada um.
Grito para chamar a atenção dos dois. Estava disposto a gritar a noite toda.
Esgotado caí sobre meu travesseiro com muita dor de garganta e adormeci.
- Bom dia joão lucas! - Meu pai me acordou com um carinho no cabelo.
Me pegou no colo e carregou até a cozinha, onde me sentou na cadeirinha.
Observava os arredores da casa, o teto estava todo enegrecido, e a casa com um cheiro amargo. Olhei sobre os ombros do meu pai, vi uma concentração de fumaça sobre ele.
- Olha o bocão!
Percebo ainda, que quando fala, sai um resquício de negro bafo de sua boca.
Abri a boca. Estava realmente muito fraco e com fome.
Olhei para a colher vindo em minha direção e vi minha comida escura com um cheiro insuportável. Então fechei a boca rapidamente e virei a cara. A comida sujou meu rosto. Meu pai me deu uma bronca e me forçou a ingerir o venenoso alimento.
Estava no quarto brincando com meus bonecos e fiquei triste ao lembrar de uma coisa. Hoje, eu não vi minha mãe o dia todo.
Fui engatinhando até a sala e puxei a calça de meu pai.
- Mamãe!
Meu pai me pegou no colo e disse melancolicamente:
- Meu querido... Mamãe viajou. Não volta mais.
Não compreendi o que meu pai quis dizer, mas pude sentir pela sua voz um sentimento de abandono. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas não o suficiente para transbordar.
Nesse momento toda a fumaça escura e fétida engrossou e caiu lentamente sobre nós, se espalhando agora pelo chão.
Meu pai foi me colocar ao chão novamente mas eu me agarrei a ele. Estava com muito medo de descer. Mas não pude impedi-lo de me botar ao chão.
Fui o mais rápido possível para meu quarto e subi no meu berço, tentando não respirar a fumaça. Com a cabeça sobre meu travesseiro caí em um sono sono profundo.
Acordei com um beijo. Meio desacordado, vi com os olhos entreabertos a imagem embaçada uma pessoa me dando às costas e partindo.
Fechei novamente os olhos, poucos segundos depois, acordei definitivamente muito assustado sentindo um cheiro tão ruim que parecia corroer meu nariz.
Aquela fumaça estava pairando em volta do meu berço. Pude ver, meu pai abraçando mamãe, que tinha uma enorme marca roxa no olho.
A visão de meus pais e o resto do meu quarto pouco a pouco estava ficando mais distante. Tudo foi escurecendo cada vez mais. A fumaça havia envolvido meu berço todo!
Vejo ela se aglomerando e formando um corpo de uma figura sinistra com um longo sobretudo preto e um capuz que cobria seu rosto.
Senti um arrepio e arregalei meus olhos ao escutar sua voz grossa e tenebrosa ecoar pela escuridão.
-Olá, bebê!
Tão grande era o horror que sentia que mal conseguia me mexer ou ainda mais gritar.
A figura assustadora foi se desmanchando lentamente e caindo sobre meu leito.
Estava se aproximando de mim, e envolvendo minhas pernas, subindo bem devagar. Perdi a vontade de gritar, fiquei com muito sono e dormi.
Quando acordei, levei um susto! Percebi que o mesmo personagem de antes ainda estava presente no meu quarto, em frente ao meu berço, me encarando com seus olhos escuros e penetrantes.
Chamei pelo meu pai ao berros.
Quando apareceu disse:
- Oh, querido. Parece que teve um pesadelo!
Me pegou no colo e me carregou até a cozinha tranquilamente. Meu pai não o-viu!
Dei um abraço apertado em meu pai, e uma lágrima escorreu pela minha bochecha. Motivo de risadas da tenebrosa criatura.

Erik Barros