quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Luciana





ntônio caminha pela madrugada percorrendo as largas ruas da pacata cidade de Bom José da Conceição.
Apenas com uma maleta na mão, passa de porta em porta a procura de uma pousada em que possa pernoitar.
Ao virar a esquina, avista finalmente uma porta aberta, muito convidativa, iluminando a calçada. Tinha uma grande placa sobre o batente escrito:
“Pousada Calvacante Rosa”
Limpa os pés no capacho e entra. Então se dirige à recepção:
- Boa noite! – Comprimenta Antônio.
- Boa noite! Deseja alugar um quarto, meu senhor?
- É claro! O que mais posso querer de uma pousada no meio da madrugada?
- Ora, me diga você... O que um jovem faz na cidade a esta hora?
- Estou a caminho do Rio de Janeiro! Uma grande jornada. Retornarei à estrada pela manhã.
- E pretende fazer o que no Rio, meu caro?
- Sou poeta!
Antônio abre sua maleta sobre o balcão e a vira para o recepcionista. Duas mudas de roupa, um paletó, escova e pasta de dente. O resto eram folhas cheias de anotações.
O recepcionista deu uma boa olhada para os papéis e diz:
- Hum... interessante! Bom, Seu Rubens a seu dispor! – Se apresenta o recepcionista.
Antônio sorri e retribui:
- Antônio Nogueira.
- Devo então providenciar agora mesmo um quarto, Sr. Antônio. Provavelmente está cansado!
Seu Rubens pega a chave do quarto e sobe as escadas acompanhando seu hóspede até o aposento.
Depois de chegar ao quarto, Seu Rubens destranca a porta. Se vira e sem dizer um palavra percorre o longo corredor até as escadas.
Antônio nem deu antenção a indelicadeza do recepcionista, só queria descansar, por tanto, rapidamente se preparou para dormir e apagou as luzes...
- Eu voltei... – sussurra uma voz vinda da escuridão.
Antônio desperta com um sobressalto, tinha ouvido um barulho curioso, mas estava em dúvida se tinha sido um sonho.
- Eu voltei...
Escutou novamente. Mais alto. Percebeu que se tratava de um sussurro, que agora parecia ter sido pronunciado ao lado de seu ouvido.
Sentiu um calafrio. Então muito assustado se levantou rapidamente e ligou a luz.
“Definitivamente não foi um sonho”, pensava.
- Tem alguém aí? – Perguntou meio receioso.
Ninguem respondeu. Apreensivo, decide tomar uma ducha para acalmar os nervos.
Antônio escutou alguém bater na porta. Enrolou-se na toalha para atender a porta.
Mas ao abrir a porta, não encontrou ninguém. Botou a cabeça para fora e olhou para os dois lados. Fechou a porta e ao se virar deu de cara uma linda mulher de vestido vermelho, cabelos longos e cacheados e de lábios carnudos, colada a seu rosto.
- Vo...vo...você? – Antônio perguntou gagejando.
A bela mulher não respondeu e continuou fitando-o com seus olhos cor de mel.
- O que você faz aqui? – Continuou.
- Seu tempo acabou. – Respondeu a bela mulher com uma imensa tranquilidade. – Antônio! Seu tempo acabou! – Repetiu mais alto.
Com um sorriso na boca esperava a reação de Antônio.
- Bom, Luciana, tenho algo para você!
Antônio se desviou da moça e foi até sua maleta a abriu e pegou um papel que entregou à Luciana.
Ela olhou. Depois de alguns segundos começou a rir bem baixinho, e foi aumentando gradativamente até o ponto que estava se afogando em gargalhadas.
Confuso, Antônio pergunta:
- O que foi?
Luciana responde:
- Não pode mais, você não pode mais adiar sua morte!
Pode ter funcionado a muito tempo quando nos conhecemos. Você me cativou com seu belos poemas e astutas palavras. Me convenceu a adiar o dia de sua morte, mas hoje não será possível.
- Não! – Responde Antônio com muita seriedade.
- Tome.
Luciana entregou-lhe uma navalha fechada.
Antônio segurou firme entre seus dedos. Quando abriu cravou-a na face da mulher. Abriu a porta e correu como nunca tinha corrido antes. Sentia que a escuridão o perseguia, e desceu as escadas com um só pulo. Ao chegar na recepção, viu uma enorme cruz na entrada. Percebeu que nada o estava seguindo.
“Estou a salvo aqui”, deduziu.
Encostou-se na parede aliviado, estava muito suado e fechou os olhos agradecendo aos céus por tê-lo salvo.
Quando abriu os olhos viu Luciana sentada no banco de espera da recepção com sua face desfigurada e ensanguentada.
Paralizado junto a parede, Antônio gemeu, e gemeu tentando gritar diante da horrenda imagem, mas nada saia de sua garganta.
Luciana caminhou até ele lentamente e com sua boca molhada de sangue deu-lhe um longo beijo. Antônio arregalou os olhos e percebeu que sua boca estava suja de sangue tabém, ficou tonto e confuso.
Sentiu alguém agarrando seus pés, olhou para baixo, e viu várias mãos surgindo do chão e o puxando para baixo, lentamente, Antônio descia, descia e descia.
Antes de ser engolido por completo, pôde ver Luciana acenando e mandando um beijo bem melado, melado de sangue.
A cruz de nada adiantou contra a morte de Antônio...
... - Antônio, quer fazer mais um poema para mim?

Erik Barros

Um comentário:

  1. "- Seu tempo acabou. – Respondeu a bela mulher com uma imensa tranquilidade. – Antônio! Seu tempo acabou!" Adorei essa parte xD Ficou legal, Abraços

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