quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Insegurança






"O maior erro que podemos cometer, é ficar o tempo todo com medo de cometer algum"

William Shakespeare

Pra mim, esse e o ditado mais filho da puta que existe, é facil falar mas incrívelmente dificil de seguir.
O pior é que você é obrigado a enfrentar esse medo caso queira ser feliz algum dia. É necessario quebrar essa barreira que vai ficando mais alta a cada dia que você aprisiona seus desejos e ambições dentro de si.
Foi esse medo que me assombrou a vida toda e sempre que tem uma oportunidade, tenta sugar minhas esperanças.
Como se livrar do medo? Eu venho procurando uma resposta para esse dilema a vida toda e ainda não encontrei...
Talvez não se trate de perder o medo, mas de enfrentá-lo, fechar os olhos e seguir em frente.

Mesmo assim ainda me falta a coragem para dar o primeiro passo...


Erik Schnabel

terça-feira, 21 de abril de 2009

A gota d'agua


Acordei repentinamente. Olhei em volta do meu quarto e fiquei aliviado ao saber que toda aquela experiência horripilante tinha sido apenas um sonho ruim.
Me levantei da cama muito dolorido. Meu colega de quarto, Arthur já tinha saído para tomar o café da manhã. Então depois de passar uma água no rosto, me dirigi ao refeitório.
Logo que me acomodei à mesa, Arthur veio me provocar. Sentou-se do meu lado e pegou uma torrada da minha bandeija.
- Como passou a noite fernandinho? – Zombou Arthur.
- Eu não quero confusão! Se já não bastasse ser seu colega de quarto, ainda tenho que aturar essas brincadeirinhas. – Irritado, levantei-me e puxei a torrada da mão de Arthur antes que ele pudesse colocá-la na boca. Fui sentar-me em outra mesa sozinho.
Por incrível que pareça, nós dois somos muito parecidos. Temos os mesmos objetivos e telvez fosse por isso que somos tão competitivos e acabamos por nos desentender.
Mas eu tinha preocupações mais importantes do que confrontar Arthur.
Voltei meus pensamentos para Mariana, a filha do zelador do internato.
Apalpei meu bolso esquerdo, que continha as mais valiosas anotações da escola.
“Venho trabalhando nesse poema faz semanas e será a chave do coração de Mariana”, pensei.
Já era noite e era hora de todos se recolherem para seus dormitórios. Ao chegar no quarto, vi que Arthur já estava na cama coberto até a cabeça. O que era muito estranho, porque ele não costuma dormir tão cedo. Pensei que ele poderia estar doente.
Eu saí sorrateiramente pela janela para não acordar Arthur de quarto e não chamar atenção de nenhum dos bedéis. Desci pela calha, e fui até o quarto de Mariana, que fica nos fundos da escola, na dependência dos empregados.
Toc, Toc, Toc
- Quem é? – Sussurou uma voz meio assustada.
- Sou eu! Fernando Augusto! – Respondi.
Percebi uma certa agitação dentro do quarto, talvez fosse um sinal de que ela estivesse nervosa com a minha visita, que talvez ela realmente gostasse de mim.
Olhei por trás dos ombros apreensivo, porque se alguém me encontrasse aqui, eu estaria em apuros.
Quando ouvi a porta destrancar, rapidamente ajeitei meu cabelo.
Mariana abriu a porta apenas o suficiente para mostrar seu rosto.
- Fernando, eu estou meio ocupada agora...
- Não posso esperar mais – Interrompi – Se eu não falar com você agora, talvez eu não tenha coragem para falar depois.
Puz a mão no bolso para retirar meu poema, mas ouvi um ruído vindo de dentro do quarto.
“Ora, Mariana não tem colegas de quarto”, pensei.
Desconfiado dei um empurrão na porta que Mariana segurava e vi Arthur sentado ao pé da cama do meu único e verdadeiro amor.
- Fernando... Espere... – Suplicou Mariana.
Sem dizer uma palavra, enxuguei uma única lágrima que escorreu dos meus olhos e corri o mais depressa possível sem olhar para tráz.
Estava determinado a me vingar. Toda a paixão que residia no meu peito fora substituída por ódio. E como era meu ódio por Arthur Virgolino. E como eu poderia continuar a desejar uma garota que já esteve nos braços de tal infeliz?
Cheguei no meu quarto e joguei minha declaração de amor sobre a mesa. Um lápis rolou e caiu no chão.
Puxei o cobertor que cobria as almofadas na cama de arthur.
Toda noite antes de dormir, Arthur beijava uma foto de sua mãe. Se meu maior sonho foi destruído, eu destruirei suas mais importantes lembranças.
À procura da bendita foto, revirei o quarto todo. As encontrei dentro de uma caixinha de madeira escondidas em seu armário. Eu o aguardava ansiosamente e quando Arthur finalmente chegou no nosso quarto, se surpreendeu ao me ver sentado sobre sua cama. Os raios da Lua iluminavam seu rosto petrificado, e o meu isqueiro iluminava a foto de sua querida mãe.
- Não a queime! Implorou.
Eu me levantei.
- Onde está toda a sua valentia agora?
- Desculpe pelas brincadeiras que eu fiz com você, eu juro que paro! Mas não a queime!
- Você roubou a minha namorada! Você quer competir em qualquer coisa que eu faço! Destruiu meus sonhos!
- Como assim? Se acalme!
Pude ver claramente que a expressão de Arthur mudou. Não apenas sua expressão, mas seu rosto também. Ele tinha assumido a minha forma!
Os angustiantes sentimentos que vivi em meu pesadelo noite passada, pesaram sobre meus ombros. Eu perdi o equilíbrio. Deixei cair no chão as fotos e o meu isqueiro. Tentei me apoiar sobre a mesa.
Olhei novamente para Arthur, que agora me desafiava com um olhar ameaçador. O quarto começou a girar ao meu redor. Eu caí de joelhos e pensava se tudo isso poderia não passar de uma alucinação.
Arthur se aproximava sussurrando:
- As fotos da minha mãe... - Então peguei um lápis do chão e numa última investida desesperada contra meu inimigo perdi a consciência.
Despertei atordoado sobre uma maca, com os braços e pernas presos.
Uma lâmpada muito forte ofuscava meu olho, pois um deles estava tapado.
- Aonde eu estou? – Perguntei.
- Parece que ele está recobrando a consciência. – Comentavam vozes distantes.
Um dos homem se pôs em frente à forte luz.
- Arthur, eu sou o doutor Octávio Cirqueira. Devo lhe informar...
- Arthur? Meu nome é Fernando, Fernando Augusto!
- Devo lhe informar – O homem continuou - Que conseguimos executar a cirurgia sem maiores danos.
- Como assim?
- Não existe nenhum Fenando! Você se auto flagelou perdendo a visão do olho esquerdo. Por sorte, o lápis não ultrapassou a cavidade ocular.
- Espere! Deve ser um engano! Isso é bobagem!
- Vamos encaminlhá-lo à uma clínica psiquiátrica depois de sua recuperação.
- Deve ser um engano! Eu não sou Arthur!
O doutor ignorou meus
gritos e foi embora junto com as outras pessoas, deixando-me sozinho, naquela fria e assustadora sala.
Erik Barros

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Belizário



- Sr. Belizário, já vou indo está bem? - Informou Clarisse, minha secretária. - O Sr. vai embora junto comigo?
- Não. Tenho que terminar esse relatório o mais rápido possível!
- Mas amanhã é seu dia de folga Senhor.
- Por isso mesmo! Tenho que terminar antes que o Emerson pise no escritório de manhã!
- Você tem trabalhado muito ultimamente. Todo dia hora extra, trabalha nos finais de semana... Realmente Sr. Belizário... Estou muito preocupada!
Balancei a cabeça dirigi minha atenção ao computador.
Clarisse se despediu antes de sair da sala:
- Até segunda!
- Até... - Respondi ainda com os olhos vidrados no monitor.
Depois da saída de Clarisse, o ambiente ficou incomodamente silencioso. Eu trabalhava na penumbra, tinha apenas uma fraca iluminação do abajur.
O escritório de advocacia Ernesto Barbosa, defende casos de violência à mulher, idosos e crianças.
O caso que venho trabalhando atualmente, é sobre uma denúncia de que um senador agredia sua esposa. Se fosse confirmado, o tal senador poderia pegar de 2 a 3 anos na cadeia.
Passaram-se duas horas desde que fiquei sozinho no escritório mergulhado no trabalho. Quando finalmente terminei, bocegei me alongando e olhei para meu meu relógio.
"4:00, putz... Líggia vai deve estar preocupadíssima", pensei.
Botei meu casaco e peguei as chaves do carro enquanto o computador desligava. O abajur começou a falhar até apagar por completo. A sala ficou completamente escura.
" Perfeito! Agora tenho que tatear as paredes até a saída", ironizei comigo mesmo. Nesse momento escutei um barulho muito estranho. Parecia que algum objeto tinha se quebrado. Decidi averiguar.
Escutei passos pesados e cochichos. Fui seguindo o barulho pelo corredor, da forma mais silenciosa possível me orientando pela parede. O cochicho se tornou uma conversa e a medida que as palavras tomavam forma eu ficava mais apreensivo. Percebi uma luz da última sala no final do corredor. Passei por mais 3 portas e a luz já estava mais forte, porém variava de intensidade.
Ao chegar na última porta fui surpreendido com a luz diretamente no meu rosto. Coloquei a mão na frente da luz e perguntei vorazmente:
- Quem está aí?
Como resposta uma forte explosão me atirou ao chão desmaiado. Quando despertei, muito confuso, notei que já era de manhã.
Senti um amargo cheiro de ferrugem. Fora a isso, aparentemente, tudo estava no lugar. Me sentia muito estranho ao tentar lembrar da noite passada.
"Será que foi um sonho? O que realmente aconteceu? Devo estar trabalhando demais", pensei.
Saí do escritório e fui depressa ver meus filhos e minha mulher que deviam estar muito preocupados. "Já deve estar na hora de levá-los para escola"
Chegando em casa, abri a porta e vi minha mulher de costas falando ao telefone. O choro a fazia tropeçar nas palavras:
- Então ele não voltou com você?... Mas você não... Sim!... Exato! É justamente por isso que eu te liguei! Mas ele não chegou! Isso... Obrigada... Tá... Tchau.
Líggia desligou o telefone, se virou. Estava descabelada como quem não tivesse dormido. Estava olhando pro chão desamparada, mas ao levantar a cabeça me fitou com olhos eufóricos e avermelhados. Ela sorriu por um instante, mas ficou séria repentinamente. Sentou-se no sofá, cobriu o rosto com as mãos e se pôs a chorar bem baixinho, como se quisesse segurar as lágrimas. Soluçando, lamentou:
- Eu disse que não deveríamos ter vindo pra São Paulo, é uma cidade muito perigosa!
Me sentei ao seu lado a envolvi em meus braços:
- Querida, me desculpe! Isso nunca mais vai se repetir! Eu cai no sono, mas estou bem, não é culpa da cidade, a culpa é minha. Eu sempre trabalhei demais, mas prometo que vou pegar mais leve. E as crianças, você as levou pra escola?
Líggia calou seus prantos, mas fingia ainda não me escutar e não me respondeu. As vezes o silêncio diz mais que mil palavras.
- Eu sei que hoje era meu dia de levar as crianças pro colégio... Mas acontece! 
Eu me senti mal por ter causado tanta preocupação e ter falhado em uma das minhas responsabilidades. Líggia sofre de ansiedade e tem problemas em dirigir em horário de rush.
Me levantei e fui tomar um banho para relaxar e pensar numa maneira de recompensar minha mulher. Passei pelo quarto dos meus filhos e a porta estava aberta, vi suas camas ainda bagunçadas e vazias. "As crianças devem ter perguntado para a mãe sobre mim e ela não sabia o que dizer... Provavelmente inventou alguma coisa para acalmá-los." 
Enquanto me vestia sentado na cama, olhei para o relógio da cabeceira. Meus olhos embaçaram, esfreguei com o punho, mas mesmo assim não pude ver as horas.
Pensei que Liggia devia estar mais calma. Eu estava na cozinha bebendo um café e perguntei alto, para que ela escutasse da sala:
- Podemos almoçar fora hoje o que acha? Todos juntos, posso buscar as crianças e te encontrar no japa aqui da esquina.
- Não! - Respondeu Líggia da sala.
- Não? Mas você adora aquele restaurante...
- Não! Não! Não! Não! - Repetia agora freneticamente. Fui até a sala em pulos, muito assustado com a reação de minha mulher. Vi o telefone caindo no chão e balançando pendurado pelo fio.
- Não é possível! Não pode ser! - Líggia continuou gritando andando em círculos.
- O que foi? - Perguntei exaltado. Sabia que algo mais tinha acontecido, algo que ela não queria me dizer.
- Liggía! Aconteceu algo com as crianças? Eu exigo que você me explique agora o que esta acontecendo nesta casa! - Insisti. - Está agindo feito louca! - Aguardei um instante para ver sua reação, sabia que poderia ficar ofendida com o que disse. Ela odeia ser chamada de louca.
Inesperadamente, saiu correndo de casa foi para a garagem e entrou no carro. A segui e bati no vidro, pedindo que tivesse calma para conversarmos. Ela olhou pra mim, com um olhar perdido. Achei que tinha ouvido a voz da razão.
- Querida... saia do carro... - Eu comecei a rir da situação e fechei os olhos por um instante balançando a cabeça. Fui surpreendido com a ignição do carro e com uma arrancada Líggia saiu de ré pela garagem. 
Eu estava em choque, peguei minhas chaves entrei no meu carro e fui atrás dela, já estava puto com toda essa situação! Alcancei seu carro e a acompanhava pelas ruas da avenida Paulista. Tentava lembrar dos conselhos que nosso terapeuta havia me dado na última consulta, sobre as crises de ansiedade de Líggia mas nada me vinha a cabeça, nunca tinham sido tão extremas. Procurei o cartão do doutor Tuckman na carteira e tentei ligar para ele, mas caia na caixa de mensagem. A segui de carro por mais 15 minutos. Pensei que estivesse seguindo para o colégio dos meninos, mas me surpreendi ao perceber que estávamos a caminho do prédio do meu escritório.
"A última coisa que quero hoje é voltar ao lugar onde trabalho no meu dia de folga!", resmungava.
Ao descer do carro, corri para alcança-lá e pegamos o elevador juntos.
Ela ficou calada e muito séria, eu não soube o que dizer, estava muito confuso. Eu esperava que chegando ao nosso andar, Líggia veria o escritório fechado e cairia na real.
Sentia um frio na barriga que aumentava a medida que o elevador subia.
Saindo do elevador, fiquei surpreso ao ver a porta aberta do meu escritório e caminhamos pelo longo corredor. Suspeitei que pudesse ser dia de fachina.
Imaginava que ela fosse entrar na minha sala, mas Líggia passou direto. Eu estava logo atrás dela, bastante curioso para saber até onde isso ia chegar. Notei certa movimentação na última sala. Sentia uma forte dor de cabeça enquanto flashs da noite passada vinham na minha mente.
Ao chegar lá, vi vários policiais e Clarisse, minha secretária. Todos de cabeça baixa, melancólicos. Um dos policiais falou pelo radio com uma voz ríspida:
-Isso, encontramos o corpo. Parece que foi vítima dos bandidos que invadiram o escritório noite passada. Câmbio.
Olhei ao redor da sala toda bagunçada, papéis espalhados pelo chão junto a cacos de vidro e com as paredes sujas de sangue.
Abaixei a cabeça e levei um susto! Vi um homem, com o peito arrebentado por uma bala, deitado sobre uma imensa poça de sangue que chegava até meus pés.
"Meu Deus! Pobre homem!", pensei abalado. "Dona Ivete não vai gostar nem um pouco de limpar essa sujeira..."

Erik Schnabel

sábado, 10 de janeiro de 2009

Um Olhar Ingênuo


Estou no meu berço, distraído com meu bonito móbile pendurado sobre minha cabeça.
Entregando-me pouco-a-pouco ao sono que chega sorrateiramente, me guiando a caminho dos meus belos sonhos.
Acordei sob ressaltado ao escutar a barulhenta chagada dos meus pais. Ponho-me a chorar.
Minha nana se despediu dos dois, tentando não interferir na discução, mas eles não responderam. Então ela saiu rapidamente pela porta.
Meus pais trouxeram uma grande quantidade fumaça com eles. Que se espalhou rapidamente pela casa.
Apoiado nas grades de meu pequeno berço, me levantei com certa dificuldade e fico em pé, só com a cabeça fora do alcance das grades. Choro mais alto para chamar atenção deles. Mas eles me ignoram e continuam gritando e discutindo. E eu observava pela minha porta:
- Você não devia ter dito aquilo! - Gritou minha mãe.
- Pelo amor de deus, você me envergonha na frente dos meus amigos! Sua louca, só fala merda! Eu não preciso disso...
- Você acha que eles são realmente gostam de você? Só estão com você pelo seu cargo! Eu sou a única que sempre está do seu lado!
- E que grande ajuda você me traz!
- Ah é? Vamos ver então como você se vira sem mim!
Vejo uma fumaça negra saindo da boca dos dois. Parece que fica mais espessa a cada frase pronunciada por cada um.
Grito para chamar a atenção dos dois. Estava disposto a gritar a noite toda.
Esgotado caí sobre meu travesseiro com muita dor de garganta e adormeci.
- Bom dia joão lucas! - Meu pai me acordou com um carinho no cabelo.
Me pegou no colo e carregou até a cozinha, onde me sentou na cadeirinha.
Observava os arredores da casa, o teto estava todo enegrecido, e a casa com um cheiro amargo. Olhei sobre os ombros do meu pai, vi uma concentração de fumaça sobre ele.
- Olha o bocão!
Percebo ainda, que quando fala, sai um resquício de negro bafo de sua boca.
Abri a boca. Estava realmente muito fraco e com fome.
Olhei para a colher vindo em minha direção e vi minha comida escura com um cheiro insuportável. Então fechei a boca rapidamente e virei a cara. A comida sujou meu rosto. Meu pai me deu uma bronca e me forçou a ingerir o venenoso alimento.
Estava no quarto brincando com meus bonecos e fiquei triste ao lembrar de uma coisa. Hoje, eu não vi minha mãe o dia todo.
Fui engatinhando até a sala e puxei a calça de meu pai.
- Mamãe!
Meu pai me pegou no colo e disse melancolicamente:
- Meu querido... Mamãe viajou. Não volta mais.
Não compreendi o que meu pai quis dizer, mas pude sentir pela sua voz um sentimento de abandono. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas não o suficiente para transbordar.
Nesse momento toda a fumaça escura e fétida engrossou e caiu lentamente sobre nós, se espalhando agora pelo chão.
Meu pai foi me colocar ao chão novamente mas eu me agarrei a ele. Estava com muito medo de descer. Mas não pude impedi-lo de me botar ao chão.
Fui o mais rápido possível para meu quarto e subi no meu berço, tentando não respirar a fumaça. Com a cabeça sobre meu travesseiro caí em um sono sono profundo.
Acordei com um beijo. Meio desacordado, vi com os olhos entreabertos a imagem embaçada uma pessoa me dando às costas e partindo.
Fechei novamente os olhos, poucos segundos depois, acordei definitivamente muito assustado sentindo um cheiro tão ruim que parecia corroer meu nariz.
Aquela fumaça estava pairando em volta do meu berço. Pude ver, meu pai abraçando mamãe, que tinha uma enorme marca roxa no olho.
A visão de meus pais e o resto do meu quarto pouco a pouco estava ficando mais distante. Tudo foi escurecendo cada vez mais. A fumaça havia envolvido meu berço todo!
Vejo ela se aglomerando e formando um corpo de uma figura sinistra com um longo sobretudo preto e um capuz que cobria seu rosto.
Senti um arrepio e arregalei meus olhos ao escutar sua voz grossa e tenebrosa ecoar pela escuridão.
-Olá, bebê!
Tão grande era o horror que sentia que mal conseguia me mexer ou ainda mais gritar.
A figura assustadora foi se desmanchando lentamente e caindo sobre meu leito.
Estava se aproximando de mim, e envolvendo minhas pernas, subindo bem devagar. Perdi a vontade de gritar, fiquei com muito sono e dormi.
Quando acordei, levei um susto! Percebi que o mesmo personagem de antes ainda estava presente no meu quarto, em frente ao meu berço, me encarando com seus olhos escuros e penetrantes.
Chamei pelo meu pai ao berros.
Quando apareceu disse:
- Oh, querido. Parece que teve um pesadelo!
Me pegou no colo e me carregou até a cozinha tranquilamente. Meu pai não o-viu!
Dei um abraço apertado em meu pai, e uma lágrima escorreu pela minha bochecha. Motivo de risadas da tenebrosa criatura.

Erik Barros

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Luciana





ntônio caminha pela madrugada percorrendo as largas ruas da pacata cidade de Bom José da Conceição.
Apenas com uma maleta na mão, passa de porta em porta a procura de uma pousada em que possa pernoitar.
Ao virar a esquina, avista finalmente uma porta aberta, muito convidativa, iluminando a calçada. Tinha uma grande placa sobre o batente escrito:
“Pousada Calvacante Rosa”
Limpa os pés no capacho e entra. Então se dirige à recepção:
- Boa noite! – Comprimenta Antônio.
- Boa noite! Deseja alugar um quarto, meu senhor?
- É claro! O que mais posso querer de uma pousada no meio da madrugada?
- Ora, me diga você... O que um jovem faz na cidade a esta hora?
- Estou a caminho do Rio de Janeiro! Uma grande jornada. Retornarei à estrada pela manhã.
- E pretende fazer o que no Rio, meu caro?
- Sou poeta!
Antônio abre sua maleta sobre o balcão e a vira para o recepcionista. Duas mudas de roupa, um paletó, escova e pasta de dente. O resto eram folhas cheias de anotações.
O recepcionista deu uma boa olhada para os papéis e diz:
- Hum... interessante! Bom, Seu Rubens a seu dispor! – Se apresenta o recepcionista.
Antônio sorri e retribui:
- Antônio Nogueira.
- Devo então providenciar agora mesmo um quarto, Sr. Antônio. Provavelmente está cansado!
Seu Rubens pega a chave do quarto e sobe as escadas acompanhando seu hóspede até o aposento.
Depois de chegar ao quarto, Seu Rubens destranca a porta. Se vira e sem dizer um palavra percorre o longo corredor até as escadas.
Antônio nem deu antenção a indelicadeza do recepcionista, só queria descansar, por tanto, rapidamente se preparou para dormir e apagou as luzes...
- Eu voltei... – sussurra uma voz vinda da escuridão.
Antônio desperta com um sobressalto, tinha ouvido um barulho curioso, mas estava em dúvida se tinha sido um sonho.
- Eu voltei...
Escutou novamente. Mais alto. Percebeu que se tratava de um sussurro, que agora parecia ter sido pronunciado ao lado de seu ouvido.
Sentiu um calafrio. Então muito assustado se levantou rapidamente e ligou a luz.
“Definitivamente não foi um sonho”, pensava.
- Tem alguém aí? – Perguntou meio receioso.
Ninguem respondeu. Apreensivo, decide tomar uma ducha para acalmar os nervos.
Antônio escutou alguém bater na porta. Enrolou-se na toalha para atender a porta.
Mas ao abrir a porta, não encontrou ninguém. Botou a cabeça para fora e olhou para os dois lados. Fechou a porta e ao se virar deu de cara uma linda mulher de vestido vermelho, cabelos longos e cacheados e de lábios carnudos, colada a seu rosto.
- Vo...vo...você? – Antônio perguntou gagejando.
A bela mulher não respondeu e continuou fitando-o com seus olhos cor de mel.
- O que você faz aqui? – Continuou.
- Seu tempo acabou. – Respondeu a bela mulher com uma imensa tranquilidade. – Antônio! Seu tempo acabou! – Repetiu mais alto.
Com um sorriso na boca esperava a reação de Antônio.
- Bom, Luciana, tenho algo para você!
Antônio se desviou da moça e foi até sua maleta a abriu e pegou um papel que entregou à Luciana.
Ela olhou. Depois de alguns segundos começou a rir bem baixinho, e foi aumentando gradativamente até o ponto que estava se afogando em gargalhadas.
Confuso, Antônio pergunta:
- O que foi?
Luciana responde:
- Não pode mais, você não pode mais adiar sua morte!
Pode ter funcionado a muito tempo quando nos conhecemos. Você me cativou com seu belos poemas e astutas palavras. Me convenceu a adiar o dia de sua morte, mas hoje não será possível.
- Não! – Responde Antônio com muita seriedade.
- Tome.
Luciana entregou-lhe uma navalha fechada.
Antônio segurou firme entre seus dedos. Quando abriu cravou-a na face da mulher. Abriu a porta e correu como nunca tinha corrido antes. Sentia que a escuridão o perseguia, e desceu as escadas com um só pulo. Ao chegar na recepção, viu uma enorme cruz na entrada. Percebeu que nada o estava seguindo.
“Estou a salvo aqui”, deduziu.
Encostou-se na parede aliviado, estava muito suado e fechou os olhos agradecendo aos céus por tê-lo salvo.
Quando abriu os olhos viu Luciana sentada no banco de espera da recepção com sua face desfigurada e ensanguentada.
Paralizado junto a parede, Antônio gemeu, e gemeu tentando gritar diante da horrenda imagem, mas nada saia de sua garganta.
Luciana caminhou até ele lentamente e com sua boca molhada de sangue deu-lhe um longo beijo. Antônio arregalou os olhos e percebeu que sua boca estava suja de sangue tabém, ficou tonto e confuso.
Sentiu alguém agarrando seus pés, olhou para baixo, e viu várias mãos surgindo do chão e o puxando para baixo, lentamente, Antônio descia, descia e descia.
Antes de ser engolido por completo, pôde ver Luciana acenando e mandando um beijo bem melado, melado de sangue.
A cruz de nada adiantou contra a morte de Antônio...
... - Antônio, quer fazer mais um poema para mim?

Erik Barros