terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O florasteiro

Floreio pelo caminho
canto pelo canteiro
caminho durante o dia
viajo pelo centeio

Passo por pastos, campos
sorrisos e prantos
plantações e construções
pulo cercas de ilusões

Tal unidade, minha motricidade
exploro a mata como a cidade

Sou florasteiro e vim de fora
mas não sou de lá, só fui conhecer
pois minha morada é em todo o lugar
aonde uma flor conseguir nascer

Erik Schnabel

domingo, 23 de novembro de 2014

Recortes de prazer

"Em tais seios queimados pelo sol, banhados por um mar de partículas douradas, foram poupadas apenas as linhas onde descansou a roupa íntima. Parei por um momento para a merecida contemplação. Segundos que me lembraram da primeira foto em que a vi.
Uma sensação quase instintiva se apossou de mim. Como se uma presa agora estivesse em minhas mãos e antes de me alimentar devesse fazer uma pequena prece, agradecendo pela farta refeição. No meu estômago queimava a volúpia devido aos jogos de sedução e meu silêncio traduzia-se em uma última reverência antes de gozar dos frutos daquele bosque que jorrava leite e mel."

Erik Schnabel

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O sorriso da Lua




"Como um gato invisível
me acompanha em cada esquina
me lembra das traquinagens
e histórias fantásticas da infância"

Erik Schnabel

Comunicação

"O simples fato de impor uma verdade absoluta expõe um viés ideológico visando a manipulação."

Erik Schnabel

domingo, 28 de setembro de 2014

"Me senti como a árvore, assumi o papel de suas folhas e alimentava o tronco que restava dela com a luz que 'eu' absorvia. Conheci um pouco de sua história e lembrei de quando os homens brotaram das árvores. Mas além de ser morada do espírito, acabei virando morada de formigas. Me foi revelado um segredo através do Reino Plantae: Além de indivíduos, somos o meio!"




Foto por: Higorcherin

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

"Hoje temos a liberdade para ser o que quisermos, mas não de sermos quem somos. Porque quem somos é único, mas nos convenceram de que exclusividade se compra."

Erik Schnabel

sábado, 5 de julho de 2014

Carruagem

Rastros pelo céu
e eles observam pela torre,
o olho que tudo vê não é de papel

O homem já caminhava e se perguntava
o porque dessa dádiva, maldição
dessa santa ignorância, o porquê da razão

Eu já tentei de tudo
escadas e pontes,
do vertical ao horizonte

Se é pra alcançar os deuses
ou deles se esconder, eu já não sei
mas soube um tempo atrás 

O brilhante semblante branco
enfrenta uma fera de diamantes
cortes e pus, por um chicote leviano 

Dão muito valor pro oco humano
mas é tanta a densidade do amor astral
contraste entre duas faces
de uma mesmo papel

O anjo caído inveja o pai
e sabota a sua criação
na dormência dos sentidos
se faz nosso inferno pessoal

Eu juro era inocente
mas quando o bem se compra, o mal se faz
eu quero dar e receber
me isolar mas pertencer

mas um dia o cordeiro escolhe 
entre ser lobo ou leão
e o olho que tudo vê
se volta pra torre de babel

O desafio é a propulsão do meu foguete
para cruzar a estratosfera, domar a minha fera

Daqui vamos para outra dimensão!
Se a vontade é agora, sem segunda intenção:
Aqui tudo é permitido!

Erik Schnabel

sexta-feira, 4 de julho de 2014

The girl from the other side




Yesterday I was so bored that I started to read the recipe from the payment of credits in my cell phone. I read about this promotion. If I changed my accounts settings I would get a bonus of 250 megabytes for Internet usage and a hundred free txt messages.
I decided to call the phone central and change my settings to win these bonuses. A recorded voice answered the phone:
- To recharge you cell phone credits please press 1. To change you settings of your cell phone please press 2.
Tuuuuuu
- Thanks for calling. We are redirecting you to one of our attendants. - A song started.
I was expecting to deal just with electronic messages. Because talking with companies by telephone is always a challenge for me. That’s because my English skills still not that good. Actually I never enjoyed telephones talks, even in Portuguese, my first language. I intended to take my promotion as quick as possible and nothing more, cutting all the small talk.
For incredible that it seems, the waiting song wasn't that bad. Actually I recognized that music. It was from Julia Deans. A well known New Zealander artist. I knew that song because the week before Julia was at my school doing a lyrics and composition workshop and stage performance. Of course, I would not loose this opportunity of knowing more about New Zealand music and having a personal contact with an artist from that level.
Back in Brasil, I had a lot of contact with musicians. What improved a lot of my work in this area. My uncle is a competent composer and performer. My mother was a singer in the past, my father plays the guitar and from him I got the bests critics. I use to know every kind of musicians and perform to them on Christmas eve and others parties at my uncle's house.
I was hopping that she could give me her formula to write songs. I didn’t use to have any technique to write songs in Portuguese. So I was kind of lost to compose in another language.
She performed to the participants of the workshop songs from her next album and a few other. Just voice and guitar, that was the difference between the song in the phone-line. The waiting song now had a base line, drums, computer effects and edition. But the essence was the same. And I was glad for her.
In the end, it was an awesome experience to get together with Julia Deans because I got more confidence to write in English. She made me realize that it doesn’t exist any magic formula. The only need is courage enough to try again and again ans practice this until you get your song done. The same way it was with my first compositions in Portuguese.
Julia commented that she was very happy when she heard her song playing in the super market the first time. And I was there listening her song in the phone company’s waiting line. I would like to tell her about this. But she would have to accept me on Facebook first.
Finally a woman answered the call. She had this accent, seemed that she was french. I think she noted my accent as well but didn't want to comment, the same way I didn't say nothing about her. She was being very gentle and offered to figure it out few other problems that I had with my account. I could say that I was curious about her... But I was feeling so pathetic to be interested in the girl from the phone company that I saw myself like those lonely guys who spends hypes of time hitting on voices paid to be gentle and explore them in change of phone services. But in the end she said:
- Nice to talk with you! – That was enough to make me feel a bit more special than the other thousands calling her earlier on the day. I said the same to her. But I didn't have courage  enough to ask about her accent or where was she from. I was to embaraced with the fact that I could be one of those lonely guys.
We could have met one day. But of course adding her on Facebook first, to check her photo and prevent any problem. She could be an attendant on India in a call center or could work in the next town. But where she lives, or if she was really a French girl, would be a mystery forever. That was my last chance to ask these questions to the girl from the other side and it passed trough my fingers.
Later on the day the company sent me a message saying that I called to them earlier and they would like an evaluation about their services. There was my opportunity. Maybe the universe was trying to tell me something, conceding me one more chance to know that girl. Maybe it was our fate, who knows? Than I answered that I would give the evaluation about the lady who attended me and if they sent me her personal contact. If they didn’t I would change of phone company. But they just sent an automatic message saying: "Thanks for your time! Attentiouslly, your phone company!”. At least it worthed the try.


Erik Schnabel

O sábio e a onda perfeita

Dizem que quando você pega seu primeiro tubo, é uma experiência quase espiritual. Como a luz no final do túnel, o final do tubo captura completamente sua atenção. Muitos ficam obcecados e querem pegar logo outro tubo, mas se procurarem um sábio, ele orientará:
- Deixe ir essa sua vontade louca. A onda perfeita vem sempre como um presente quando menos se espera.


                                                                              (foto: Clark Little)

Erik Schnabel

sábado, 7 de junho de 2014

Desabafo em versos

















Será que vale se guardar em um cofre?
Essa é a paz de um coração de pedra
Você jura que era de ouro maciço
mas guardado é impossível saber se ainda existe
Quando ele pousa sobre a terra fofa,
o contraste entre o magenta e a sujeira
te faz ter certeza da efemeridade da vida
Minhocas se movem por entre as veias,
espasmos descompassados
entregues à profanidade do mundo
Você apareceu como um fantasma,
surgiu da névoa de mágoas passadas
Perguntei ao destino se era pra ser,
disputa acirrada entre pensar e viver
Motivos você tinha, só não eram os mesmos que eu
Adentrou meu território, capturou a bandeira,
colheu um "eu te amo" prematuro
Quem sente mais é também quem sofre
Mas deve-se saber o que quer
por isso não existem vítimas
As dores são os mestres dessa dimensão
Saiu por entre meus dedos como fumaça
depois de ter feito minha cabeça
Não se via no espelho como boa companhia
tentava tapar o buraco que você mesma cavou
Aproveite e se deite lá, acaba servindo como adubo
Por fim, jogo flores sobre teu peito
Confiança, respeito e sinceridade,
foram essas escolhidas e ceifadas pelo tempo
Terra arada e revolvida
raízes mais fortes hão de se instaurar

Erik Schnabel

sábado, 3 de maio de 2014

The queens' crown


In the woods of ancient ruins
a wizard lives and teaches
a young boy called Arthur

The pine didn't use to have a name
it exists by simply standing there  
as an exchange of kindness
it shows its beauty and you show respect

Rising my sword, through the power of love 
two different tribes got together 
however, the ideals get profane
by landing on reality

Crimson gloves draw curved lines
with your majesty's scepter 
silver from Argentina, gold from Brasil, stones from Africa
for the crown and God's will 

Hey George! Your son grew up
And now he controls the world
with the eye of providence

Suffer of many
By the hands of few
We are all guilty for the obedience

From father to son, year after year
the biggest of the empires builds it self
where the divine commands
and not a human being anymore

Crimson gloves draw curved lines
with your majesty's scepter 
Silver from Argentina, gold from Brazil, stones from Africa
Who share the power of knowledge, is called insane

Erik Schnabel

Auto-retrato

O que todo mundo quer?
Algo que faça bem
todos querem alguém
que te ame como é

alguns acertam
outros ignoram
pois quando a essência aflora
na certa se apavoram

é fácil aceitar alguém fácil de entender
pouca confusão entre os papéis que fingem ser

alguém de mau humor já é difícil
me contamina.
prefiro máscaras de porcelana

bonecas que não sentem dor
de bochechas rosadas
guardadas num museu

Pois no pensamento me contento
se me corrói é lento
como um quadro antigo
que não exponho ao sol, chuva ou vento

Erik Schnabel

Totem

A juba de leão balança
e acode quem precisa de proteção,
perigo eminente à futura geração

é rei da selva
nas entrelinhas da serpente

Lei do mais forte, lei do doente
papai que mata, quem enrola acende
pedra que rola, cavalo que manca
quem não sustenta passe a bola

o senhor do tempo mastiga, engole
quando cai no esquecimento,
se revolta a prole
primeiro conhecimento

Se a lacraia vira comida de cobra
pode fazer seu caminho de volta
um ciclo eterno e vicioso
entre a vida, a morte e o gozo

Erik Schnabel

domingo, 30 de março de 2014

Pedra Filosofal


Falta de um cochicho no ouvido,
uma notícia boa,
intenções maquiavélicas
que fazem o meu dia
Será que os fins justificam os meios?

Você joga videogame
aperta as setinhas
as moedinhas são um beijo
fliperama do desejo

Olhos culpados, só para me distrair
vaidade, consciência da beleza 
pura maldade, e assim captura mais uma presa

Você me acorda, te "torno on"
voce me toca e respiramos
seguindo o ritmo de um acordeon

Passeamos pelo bosque
te protejo e nos colamos dentro de um baú
te chamo pra um picolé
e você me come crú

Você se vai e guarda parte de mim
também fiquei com uma parte sua
te devolvo algum dia, se voce vier buscar

O teste final da fé
fé em si e na própria completude
certeza das verdades da vida
perto de algo tão intimidador

Para muitos ouro de tolo
mas cada um enxerga o que pode
eu vi uma tigresa com os olhos de diamante
isso depende da sua sorte

Erik Schnabel

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014



Dizem por aí que os bandidos e mal feitores por mais perversos que sejam, estão mais próximos da dita "iluminação" do que os entregues a inércia conformista. Pois diferente destes eles vivem mais intensamente suas escolhas e colhem os frutos do Karma.
Dizem também que Jesus era sempre visto ao lado das prostitutas e ladrões, não porque era mal intencionado, mas por ter sido um marginal, revolucionário, ser contra os padrões da época. Essas qualidades, dependendo do ponto de vista, não se diferem tanto do resto do povo que frequenta o submundo do crime e do vandalismo. A diferença consisti basicamente em um posicionamento ideológico ou uma orientação espiritual.

"O sábio conhece a importância do bater das asas da borboleta, por isso se contenta em apenas observar. Alguns se iludem com sua beleza e tentam capturá-la para satisfação própria. Mas o pior é nem se dar conta do encanto que a borboleta traz"

Erik S.

Máscaras



Eu sempre tive contato com muitos campos da arte. Musica, escrita, desenho... Mas sempre via o teatro como um quarto escuro que eu não me atreveria entrar. Apenas com os meus dezessete anos a curiosidade falou mais alto e eu entrei no grupo de teatro do colégio.
Algo parecido tinha acontecido antes. Quando passei a escrever contos e meu tio, que é músico, me incentivou a fazer uso dessa boa relação com as palavras para compor. Foi difícil e foram necessárias algumas tentativas antes de surgir minha primeira composição.
Nunca tive problemas em falar em público, mas estava sentindo uma imensa dificuldade de improvisar e principalmente simular emoções no palco... Me faltava fé. Se nem mesmo eu acreditava no que estava encenando como fazer outras pessoas acreditarem? Descobri então eu era uma pessoa emocionalmente travada. Sempre bolando algo antes para não me expor completamente. Meus gestos, minhas falas, era tudo comedido. Passei a me sentir preso por esse filtro, essa auto-censura inconsciente. As vezes, apenas a intenção de evitar mascaras acaba criando mais uma.
Engraçado como o teatro te faz remexer nas coisas que você sufocou a vida toda. Como se fosse um baú que se abre, podendo agora se divertir com esses brinquedos a muito esquecidos. Arejando esse baú, acabamos por nos conhecer melhor. Nos sentimos mais completos ao ter essa intimidade com sigo mesmo e encarar o nosso lado sombrio.
Sempre comentava com as pessoas que eu sou do tipo que não pensa rápido. Dizia que não funcionava sobre pressão. Mas se houver tempo, poderia arquitetar um plano a prova de falhas. Com essa calma, refino minhas idéias. E esse é um momento muito pessoal, quase como uma meditação.
Certo dia, eu estava conversando com um amigo e algum comentário meu o fez dizer:
 - Ah, esqueci que você está sempre um passo a frente de todo mundo. - Não dei muita atenção ao que ele tinha dito na hora. Mas agora me pergunto: Até que ponto estar um passo a frente dos outros é bom? Essa pressa pode me fazer tropeçar.
Hoje eu percebo que eu passo a maior parte do tempo no mundo das ideias e por lá, acabo me perdendo. Pensando sobre o futuro, as vezes sobre o passado. Esse hábito acaba me causando um sério problema de atenção, deixando passar coisas importantes do dia-a-dia.
Se você não tem controle sobre seus devaneios numa hora você pode chegar ao êxtase de tão empolgado da mesma forma que toda essa liberdade faz meus pensamentos e expectativas caminharem por caminhos pessimistas também.
O desapego budista trata exatamente sobre isso: Não criar muitas expectativas, dessa forma você não se frustra tão facilmente, deve-se aceitar tudo que vem como forma de aprendizado. A meditação seria a ferramenta ideal para desenvolver essa habilidade. Com a meditação você livra sua mente dos pensamentos inoportunos e passa a viver mais plenamente o presente. Essa seria a meditação oriental, com o objetivo de abster-se do pensar. Como dizem: "Orar é falar com Deus e meditar é escutar a Deus". Já a meditação que eu comentei antes ao elaborar meus planos se trataria de um conceito ocidental onde isso se define apenas como um momento de paz para organizar os pensamentos. Li já também que nas religiões cristãs existe uma tradição oculta de meditação. Técnicas esquecidas que poucos hoje em dia dão valor. Assim como a oração assumiu um papel quase que como o de um mantra, repetido aos montes, as vezes, sem mesmo compreenderem o que está sendo pronunciado. Ironicamente se eu meditasse mais da maneira oriental talvez eu já tivesse resolvido meus problemas e não estaria aqui comentando sobre eles e tentando analisá-los de maneira lógica.
Mas enfim, voltando as máscaras e traumas românticos... Um dia comentaram comigo que eu era meio frio. Mas já houve uma época em que eu fui mais romântico. Notei então que durante a vida toda, eu passei de um extremo a outro. Desde o jardim de infância, eu me apaixonava perdidamente pelas minhas coleguinhas. Levava flores e tudo mais. Mas nunca era correspondido. Talvez esse sentimento tenha sido muito precoce e por isso incompreendido. Sara, Bruna, Andressa, Beatriz, Nicole, Vanessa, Caroline...
Pode parecer meio ridículo comentar aqui sobre meus romances infantis, mas esse blog não foi feito apenas para entretê-lo. Isso pode vir a ser uma consequência se você, caro leitor, decida aproveitar o destrinçar de todas essas lembranças e sentimentos antigos. Isso, eu julgo fundamental para para compreender melhor quem sou eu hoje em dia.
Os anos foram passando e essas paixões ficando mais secretas. Como uma auto-defesa do meu subconsciente eu me fechei. Se revelar meus sentimentos não estava me fazendo bem, o jeito foi guardá-los apenas para mim e evitar o constrangimento e mágoa. Até o ponto em que eu perdi completamente a minha auto-confiança e a timidez passou a me controlar.
Me apaixonei mais uma vez, suspeitei por muito tempo ter sido a última. Isso foi por volta dos meus quatorze anos de idade. Compus até uma música e diferente do que todos acham não foi feita para ela, mas sim sobre o que eu estava passando por causa dela! Compus metade da música em um dia só, enquanto tocava guitarra pelado. A outra metade demorou mais, já que essa história não teve um final feliz e acabei inventando o resto para ficar do jeito que eu queria.
E o pior, essa frustração toda foi causada pela falta de iniciativa, coragem. Foi isso que me fez querer enfrentar esse problema de uma vez por todas. Aprendi a deixar o sentimento de lado e fui atras de outras perspectivas. Ver como é estar do outro lado da moeda. O lado de quem rejeita e brinca com os sentimentos alheios. Segui aquela frase que diz que relacionamentos não passam de jogos: "Hold my hand while I hold your attention".
Passado algum tempo busquei até desenvolver algumas relações. No entanto, não duraram muito e observei que era difícil para mim manter aquele sentimento inicial de interesse e curiosidade. Encontrava sempre um defeito que serviria como desculpa para terminar. Suspeito que tenha sido, em função deste trauma já mencionado.
Sentia como se meu coração estivesse defeituoso. Mas não seria a paixão nada mais do que uma ilusão que te faz ver tudo mais bonito e colorido, te deixando todo alegre e abobado? Talvez eu simplesmente não me iludisse mais com tanta facilidade.
Ha algum um tempo atrás parecia impossível decifrar meus sentimentos. Tudo parecia confuso: raiva, tristeza, alegria, paixão... Só percebo que em alguns momentos encontro a paz e a serenidade. Fora a isso meu universo sentimental era caótico.
Mas percebo hoje em dia que o amor se transforma. O tipo de amor que eu sentia quando criança não é o mesmo de quando adolescente e agora, tenho que me familiarizar com esse novo modo de amar...
Sem dúvida alguma o teatro me ajudou muito a lidar com esse meu lado mais prejudicado. Expressar melhor meus sentimentos e ser uma pessoa mais espontânea. 
Você deve aprender expor suas ideias através de códigos, da fala, movimentos corporais e afeições. Se utilizam das memórias afetivas para incorporar verdade nas situações fictícias, fictícias só para alguns. Porque para o ator e grande parte do público a encenação é bem real, pelo menos enquanto dura.
Aprendi que existe toda uma preparação para vestir a máscara do seu papel assim como é necessário depois remove-la, e voltar para seu eixo.
Comecei também a improvisar versando. Eu e meus amigos começamos a fazer rodas de rima com um violão, "beatbox" e até mesmo batidas de hip hop. Isso com certeza arejava minha mente como as improvisações do teatro. Deve-se limpar a mente, ter foco e fé no que se faz, observar o ambiente, o presente e versar sobre o que eu enxergava.
Dois meses antes de realizar uma viagem por um ano para a Nova Zelândia eu comecei a namorar, ignorando aquelas desculpas que o meu "Eu" medroso encontrava para não se relacionar. Mesmo sendo difícil eu consegui me abrir um pouco, tive momentos incríveis e me apaixonei. Aí fica meu conselho para quem quem for fazer as malas algum dia: Não deixe de aproveitar o presente pensando no futuro da mesma forma que você não vai querer deixar de aproveitar o futuro pensando no passado.
Nos primeiros meses da minha viagem, utilizei a máscara de que tinha tudo sob o controle. Até o momento logo antes de uma corrida de 12 horas que a pressão saiu do controle, me vi sozinho em uma terra distante e só queria meus pais para me dar uma força. Ao tentar explicar ao meu amigo o que estava sentindo nenhuma palavra saiu e lágrimas assumiram o lugar. Foi o primeiro baque da viagem me fazendo rever toda a minha forma de agir e me relacionar.
Durante essa viagem existiram algumas pessoas que cativaram minha atenção eu eu estava mais suscetível a captar essas nuances nas relações.
Observava meu comportamento durante essa viagem e tive grandes aprendizados. No início trabalhei bastante o lado de escutar e manter comentários para mim. Até porque eu ainda não dominava o inglês perfeitamente e podia ser facilmente mal compreendido. Fazia isso em função de um bom convívio social. No entanto mais tarde eu fui me atentando que eu estava deixando muitas situações passarem pelas minhas mãos. Por isso eu comecei a me preocupar em falar mais espontaneamente o que passava na minha mente  principalmente quando o ano de repente começou a passar mais depressa e eu via cada oportunidade como última.
Em um dado momento tive mais reflexões sobre as nossas máscaras. Me perguntei porque eu tinha tal personalidade, gostos e me vi refém de uma caricatura. Me perguntei quem de fato eu era, não soube responder e o pânico tomou conta de mim. Com o tempo esse medo foi diminuindo mas ainda restava aquela coceira atras da orelha.
Já no final da minha experiência enquanto fazia um mochilão antes de voltar ao Brasil visitei um grande amigo meu na capital do país. Conversando com ele, me fez perceber que todos usamos máscaras. Desse fato, eu já sabia "Todos usamos máscaras para nos relacionar em sociedade". Mas ele me fez compreender além disso. Existe quem nós pensamos que somos, quem a sociedade pensa que somos e quem realmente somos, o que se senta ao lado dos arquétipos. Quem pensamos que somos é influenciado pela visão da sociedade sobre nós, mas do mesmo jeito essa mascara ainda é a nossa ferramenta, é disso que o meu amigo se referia. Apesar dos defeitos, é através dela que deixamos nossa marca aqui nesse plano. O lance é entrar no jogo mas sempre consciente de que lado você está. A diferença entre todas as pessoas é o que move suas mascaras. Qual ideal de vida que você constrói usando seus bracinhos de madeira? Se for sincero consigo mesmo, provavelmente vai ganhar o privilégio de ser uma criança de verdade e não mais um mero marionete narigudo.
Até Jesus ou Buda, também assumiram uma mascara. Se você tem uma visão mais espiritual imagine: Como uma entidade etérea poderia atuar em um plano material? Primeiramente incorporando de um corpo material, se apropriando de todos os seus defeitos, limitações e máscaras.
Com certeza fiquei mais tranquilo com relação as minhas máscaras, o que sempre foi um dilema ao tentar descobrir quem eu sou e acabei chegando a conclusão que você é o que faz. "Ações", não existe nada mais do que o verbo nessa dimensão e o tempo segue como maestro dessa sinfonia de mudanças.
Voltando ao Brasil e houve complicações quanto ao namoro que ficou em aberto desde quando eu viajei. Foi a segunda e última vez que chorei no ano de 2013. Então inconformado com essa situação me confortei nos braços de outro romance que também não teve um fim como esperado.
Alguns dias depois estava no ônibus pensando sobre a minha vida amorosa e me dei conta que estava no fim ou começo de um novo ciclo. Depois de passar de "romântico" para "tímido amedrontado pela rejeição" depois para "coração de pedra galanteador" e então novamente ter meu coração amolecido e entristecido me vi com uma decisão em mãos: Me fechar novamente ou continuar vulnerável a futuras mágoas? Talvez a resposta seja encontrar um meio termo e escapar dessa maldição que é oscilar entre extremos. Talvez entrar no "jogo" do relacionamento mas não lacrar meu coração a vácuo e ficar atento para não desperdiçar um bom relacionamento. Afinal as máscaras são repletas de defeitos, mas se você guarda boas intenções por traz da sua está tudo bem.

Erik Schnabel