quinta-feira, 29 de novembro de 2012

"Um coração puro"





Nesse dia eu cheguei atrasado no colégio. A aula já tinha começado, mas o porteiro me deixou subir, disse pra eu ir correndo para a sala.
Não tinha ninguém lá e a porta estava trancada. Uma funcionária passava pelo corredor. Perguntei a ela aonde minha turma tinha ido. Ela me disse que os viu descendo para a capela. Lembrei que a primeira aula era de ensino religioso. 
Meu colégio era católico, a diretora era uma freira. No entando, ao contrário do que muitos pensam, na aula de ensino religioso não ficávamos só estudando a bíblia, aprendendo sobre a vida de Jesus e etc. Era na verdade bem interesante. Sempre tinha uma reflexão que extrapolava o campo religioso e entrava no nosso cotidiano, passando por análises sobre a conduta moral e ética da sociedade. Eu até estranhei o professor levar a turma para a capela, não costumávamos fazer isso. Pelo menos eu nunca tinha ido lá.
A capela era em um prédio do lado de fora do colégio, perto de onde as freiras moravam. Chegando lá, vi a turma toda sentada nos banquinhos e o professor de pé, onde geralmente fica o padre. 
Ele me entregou um papel e pediu para que eu me sentasse. Estava explicando sobre a parábola bíblica que nos entregou para ler e sobre a dinâmica que costumava fazer quando ainda era um seminarista. 
Aquele era um momento para ler o papel e refletir sobre sua mensagem sozinho. O que o professor chamava de "deserto". Poderíamos fazer essa reflexão circulando pela capela ou por alguns outros ambientes. Ali perto havia um corredor que passava por uma sala que tinha um jardim interno. Mas não era permitido adentrar mais, pois ali eram os aposentos das freiras que praticavam um tipo especial de retiro. 
 A passagem bíblica contava que quando chegar no fim dos tempos, Deus irá separar o joio do trigo, as ovelhas dos cabritos, os bons seriam recebidos ao reinos dos céus e os pecadores punidos no fogo do inferno. 
Os pecadores perguntaram o que tinham feito de ruim para serem punidos dessa forma. Deus respondeu que toda vez que negaram comida aos que tinham fome, agua a quem tinha sede e abrigo a algum estrangeiro deixaram Deus em pessoa com fome, sede e ao relento.
Os bons também confusos, perguntaram o que tinham feito para merecerem ir ao reino dos céus. E Deus respondeu que toda vez que ofereceram água a quem tinha sede, comida aos que tinham fome e abrigo a algum estrangeiro fizeram isso tudo por Deus em pessoa.
Depois de ler, fui dar uma volta. Passei por uma estátua de Jesus. Era uma imagem forte. Fiquei analisando seus cabelos louros, sua expressão e seus olhos azuis, que olhavam fixamente para mim.
Me veio a ideia de que Jesus, provavelmente, não teve esses mesmos traços e aparência, devido as suas origens e o lugar onde teria vivido.
Direcionei uma pergunta a estátua: "O que quer de mim?". Ela não pareceu responder. Continuou ali parada do mesmo jeito. Olhando para mim com o mesmo olhar que não me parecia transmitir nada.
Nesse momento uma freira passou por mim me dando bom dia. Ela não estava com aquele vestuário característico. Tinha cabelos brancos, era baixinha e usava óculos. Estava com uma certa dificuldade para andar, provavelmente devido a sua idade avançada. Mas estava toda animada e parecia que tinha muitas coisas para resolver.
Voltei minha atenção a imagem, olhando dos pés a cabeça. Suas mãos estavam perfuradas. Uma delas fazia um gesto que mais parecia apontar para cima. A outra mão apontava para o peito. Seu coração estava saltado para fora e ardia em fogo. Raios de luz emanavam dele como se fosse o que há de mais importante. Tive então, uma revelação. A resposta para o meu questionamento: "Um coração bom".
Continuei caminhando pelo corredor, fui dar uma última olhada naquele jardim interno e passei pelos meus colegas. Cada um ocupado com sua reflexão. O professor logo chamou os alunos de volta, para se reunirem e compartilharem suas experiências.
Eu contei o que aquela dinâmica me proporcionou e o professor, pareceu ter gostado da minha história.
Mais tarde no colégio, o professor disse que a diretora estava me procurando. Ele me levou até a sala dela e bateu na porta. Quando ela abriu ele discretamente disse algo em seu ouvido e foi embora. No fim das contas ela queria só me dar os parabéns. Porque meu aniversário tinha sido no dia anterior, no domingo. Mas também perguntou sobre minha essa história que o professor havia comentado.
Disse que não sabia muito bem do que ele estava falando, mas contei aconteceu na capela mais cedo. Provavelmente devia ser sobre isso.
Ela arregalou os olhos, e perguntou se eu ia mergulhar de cabeça nisso mesmo. Queria saber se eu ia me converter ao catolicismo ou alguma coisa do tipo. Tentei explicar que, na verdade, a experiência que tive me fez perceber que, independentemente da religião, de todas as formalidades e exigências, o mais importante é manter seu coração puro, enquanto passamos pelas provas da vida.
Ela disse que tinha uma coisa para mim, se virou e abriu uma caixa de papelão. Pegou um pacote e me entregou. Disse que não era pra contar a ninguem, porque ela não costumava dar presentes a nenhum aluno. Era apenas um porta cd's com a marca do colégio. Mas nada mal pra quem antes só entrava na sala do diretor para receber suspensões e advertências nos antigos colégios. Posso dizer que esse foi um ano de muitas superações.

Erik Schnabel

domingo, 2 de setembro de 2012

Lisergia



Tinha na memória a imagem meio borrada de um homem, mas não conseguia lembrar quem era. Me sentia mal. Porque mesmo não sabendo de quem se tratava, aquela figura tinha grande importância para mim. Ainda me sentia ligado à ela.
Eu já não lembrava o que era pai, mãe, escola. O vertical se confundia com o horizonte e vice-versa. Tudo não passava de um grande nada. Sentia um vazio no peito ao me confrontar com certas questões, aquelas que não tem resposta. "O que estamos fazendo aqui?" "Qual é o sentido disso tudo?" Perguntei repetidas vezes à todos que estavam do meu lado, mas ninguém soube me responder.
Fiquei desesperado, com medo de ficar daquele jeito para sempre. Mas na realidade nem lembrava mais de como era antes. Sentia uma certa culpa, será que eu estava fazendo algo de errado?
Não sabia definir o ser humano, diferenciar gêneros. Pra mim tudo não passava de energia. Feixes de luz em movimento. Ou aquilo tudo estava muito certo ou muito errado...
Pouco-a-pouco eu fui me deparando com a existência de outros pequenos seres: as formigas, as joaninhas e as aranhas, verdadeiras artistas que construíam aquelas maravilhosas teias em 3D. Tudo perfeitamente alinhado e com um propósito. Me dei conta da relação entre os seres vivos, a cadeia alimentar e o ecossistema. Pensei, "nosso lugar é aqui, lado a lado dos insetos".
Depois de ter desaprendido tudo, eu estava vendo o mundo com outros olhos e como se fosse a primeira vez ia relembrando das coisas. Nem parecia que eu já tinha vivido assim algum dia.
Voltava pela mesma estrada de terra que passei na madrugada anterior, só que antes tinha tanta neblina que foi realmente difícil não se perder pelo caminho. Agora, com um sol escaldante de meio dia sobre a cabeça, eu e meu amigo Purush caminhávamos balançando o polegar pedindo carona para os carros que passavam. Não demorou muito e um carro parou do nosso lado levantando muita poeira. O motorista era um homem cabeludo de óculos escuros. Nós entramos no carro e continuamos seguindos pela estradinha.
Seu nome era Kranti, nos apresentamos e ele disse que estava indo para cidade também e podia nos deixar na rodoviária.
Durante a viagem o tal Kranti foi falando e falando, mas eu não conseguia entender nada, ainda estava meio atordoado, só concordava e balançava a cabeça enquanto olhava pela janela. Eu tirei do bolso um aparelho tecnológico, bonito. Demorei um pouco para perceber que era apenas o meu celular.
Estávamos subindo um morro em direção à Brasília por um caminho que eu nunca tinha ido. Quando alcançamos o topo, foi um choque. Mais parecia uma colônia de bactérias, mas era lindo! Essa visão me fez lembrar da vida em sociedade, que de fato a vida continua. No dia seguinte eu tinha aula e ainda teria que dar explicações para os meus pais por chegar tão tarde em casa.

Erik Schnabel

domingo, 19 de agosto de 2012

Uma visita inesperada

"Simplesmente despertei, no meio da madrugada. Um ser muito estranho estava cara-a-cara comigo, quase debruçado sobre minha cama.
Parecia um homem. Pelo menos tinha uma forma humanóide. Dois braços, duas pernas, um par de olhos, boca, nariz. Porém, no lugar das orelhas, havia uma protuberância. Como um head phone. Sem falar que o sujeito era multi-colorido e seus membros todos desproporcionais.
 Ele chegou mais perto ainda e disse baixinho:
- A mente é muito poderosa! Ela pode te fazer escutar o que não existe. Ou simplesmente fazê-lo não escutar nada, como se estivesse com um tampão de ouvido.
Logo me vi usando tampões, como se tivessem se materializado. Notei que estava no completo e absoluto silêncio.
Cintura fina, os olhos grandes e alongados. A imagem de Buda ou Shiva era o que mais se assemelhava com este ser. Bom, foram elas que me vieram à cabeça naquele momento.
Me levantei da cama e tirei os tampões de ouvidos. Pude escutar novamente o trilar dos grilos e os outros barulhos que preenchem a noite.
Ele tinha um andar estranho e desengonçado. Começou a balançar a cabeça pra frente e para traz, passou então a mover o corpo todo para cima e para baixo e disse:
- Venha comigo!
Então lá estávamos, eu e uma criatura imaginária, no meio do quarto, balançando como um barco em auto-mar.
- Está ouvindo? - Perguntou.
Eu não tinha entendido o que ele queria que eu ouvisse. Mas em pouco tempo comecei a ouvir gaivotas, o barulho do casco batendo na água e derrepente estava em uma caravela portuguesa navegando. Olhei ao meu redor e vi a água espirrando no convés a cada onda que cortávamos.
- Sim, estou ouvindo! - Gritei.
O mar foi sumindo e agora eu balançava em uma rede. O ser se transformou na minha professora de história. E ficamos abraçados por um tempo deitados na rede. Eu tentei beijá-la. O que eu estranhei foi que ela pareceu não se importar. Que beijo delicioso!"

Tive esse sonho na noite anterior à uma prova final do colégio. Eu estava estudando sem parar à algumas semanas. Eu gosto de pensar que, de fato, um ser bondoso me visitou nesse sonho para me passar alguns ensinamentos sobre como a mente é poderosa. Podemos nos concentrar totalmente em algo ou delirar com coisas insistentes.
Talvez esse personagem colorido e diferente tenha assumido a forma da minha professora para eu reconhecê-lo como um "mestre". Oriundo, provavelmente, de um campo sutil ele não deve ter gênero, sexo. Ou seja, eu que o vi depois como mulher, acho que por isso não se importou em me beijar também.

Erik Schnabel

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Quem sou eu?


Meu nome é Erik. Nasci em Los Angeles, California. Sou fruto do amor entre duas pessoas. Um amor monogâmico e singelo (ate onde eu sei). Isso enquanto eles, meus pais, passavam um tempo nos Estados Unidos estudando.
Voltei ao Brasil cedo, por volta dos 2 anos de idade. Desde cedo eu fui mais voltado para o lado das artes e tinha um grande interesse pela música.
Sofria muita influência dos meus familiares. Meu pai tocava violão, minha mãe já foi cantora. Os dois acabaram entrando em um curso de bateria. Então, seguindo o exemplo deles e tive meu primeiro contato com a música, atravéz da bateria. Fui o único que de fato deu continuidade aos estudos. E a bateria que eu pratico, hoje em dia, foi inicialmente da minha mãe.
Aos oito anos, mudei de um colégio pequeno para um 7 vezes maior. Foi uma grande mudança. Fiz muitos amigos e alguns deles estão do meu lado até hoje.
Lá tive minhas primeiras aulas de violão e toquei caixa na banda marcial por alguns anos.
Tive uma infância e pré-adolescência meio incomuns. Enquanto a maioria dos meus amigos passavam o recreio jogando bola, eu e outros poucos soltávamos a imaginação. Procurávamos desvendar os mistérios da vida. Primeiramente queríamos ser espiões internacionais. Crescemos um pouco e começamos a pesquisar sobre magia e ocultismo. Depois nos especializamos em ufologia, meditações e parapscicologia.
Muitas vezes eu me revoltava e acabava batendo de frente com alguns colegas que não entendiam essa minha visão de mundo. Para mim não bastava aquela vida cotidiana rasa e sem graça. Tinha que haver algo mais! Mais tarde eu descobri que não se deve discutir sobre certos temas com quem não compartilha do mesmo interesse que você. Disseram-me uma vez: “Não dê pérolas aos porcos”. Foi essa frase que me fez, a partir de então, guardar a maioria das minhas idéias para mim mesmo.
Teve até uma época em que eu quis ser físico quântico! Isso logo depois de assistir “Quem somos nós”. Mas é claro que eu comecei a aprender física de verdade e vi que não era bem assim. Existe um longo caminho até a anti-matéria, buracos negros e outras dimensões. Um caminho que eu não estou disposto a percorrer, pelo menos ainda não. Mesmo assim tenho vontade de cursar física na universidade. Uma maneira de enfrentar esse “medo” da matemática.
Com o tempo eu fui esquecendo dessas viagens metafísicas e fui adentrando em um mundo com menos fantasia e questionamentos.
Desenvolvi um grande interesse por artes marciais, que associavam um pouco do trabalho espiritual com o físico. O que me fez melhorar meus hábbitos alimentares e explorar os limites do meu corpo.
Descobri mais uma paixão, o skate. Pratiquei também o famoso le parkour (mas nesse caso não dei muita continuidade devido à uma lesão no pé).
Eu me envolvi com música a vida toda. Porém somente por volta da oitava série é que eu comecei a utilizá-la como forma de expressão. Foi quando comecei a compor. Posso dizer que não so um músico muito habilidoso. Eu me orgulho das minhas criações, não da técnica.
Criei este blog também, aonde comecei a desenvolver mais a escrita. Sei que poucos acessam, mas não tem problema. Eu o tenho mais para arquivar meus textos e pensamentos.
Nessa época coloquei os estudos em segundo plano. Essa foi uma decisão que tomei conscientemente com o intuito de dedicar mais tempo à minha criatividade. E funcionou, até porque isso foi em 2009, o mesmo ano em que eu compus mais músicas até hoje. Eu ainda acho que valeu a pena. Isso porque nós somos feitos de escolhas e eu não teria me tornado quem sou hoje se não fossem as experiências pelas quais eu passei. Porém essa "inversão de prioridades" poderia ter sido feita de maneira mais saudável e menos prejudicial à minha formação escolar. Quando me dei conta já era tarde de mais e eu tento compensar esses prejuízos até hoje.
Com a chegada do ensino médio as coisas só pioraram. Muitas matérias de uma vez e tudo isso coincidindo com uma fase da vida em que existem novas descobertas. Começamos a frequentar outros tipos de lugares, conhecer novas pessoas. A noite na cidade é nossa! Dormimos tarde, acordamos cedo, cochilamos nas aulas e dá no que dá. Semelhanças não são meras coincidências. Esse é o retrato de uma fase conturbada chamada adolescência, acontece com todos. Ou pelo menos deveria.
Não somos máquinas, ninguém pode nos programar para seguir tais e tais comandos. Temos que quebrar a cara de vez enquando. Aprendemos com os erros para internalizar os ensinamentos da vida. Com certeza não os aprendemos todos na escola. Mas é lá que nos instruimos para aí sim seguir preparados pela nossa viagem, aptos para encontrar uma profissão e nos sustentar, alimentando esse sistema aonde o capital é quase um sinônimo de felicidade. Fazer o que?
Eu tento procurar a felicidade nas coisas simples da vida. Procuro atravéz da visão, audição, olfato, paladar, tato...
Tento sempre elevar meus pensamentos para não me prender à um ciclo vicioso de intrigas e conflitos desnescessários. Repito, tento. Não sou perfeito, ainda estou aprendendo, mas pelo menos tentar já é alguma coisa.
Amadurecer se trata de encontrar o equilíbrio entre todas as coisas. Consegui já um resultado em balancear a imaginação com a realidade, isso eu faço hoje atravéz da arte. Espero ainda alcançar o caminho do meio em muitas outras áreas da vida. Emoção versus razão é um exemplo. Equilibrar as obrigações e entretenimento também e desse modo segue uma lista que só faz aumentar.
Como disse, estou só começando essa viagem no tempo até o dia da minha morte. Espero ainda viver muitas experiências, alegrias e decepções. Para então, ultrapassar todas barreiras. É isso o que talvez exista de mais importante. O que para mim dá sentido à vida, o crescimento.

Erik Schnabel

sábado, 14 de julho de 2012

A teoria do caos





No colégio estava aprendendo sobre entropia, o que o professor disse ser a medida do grau de desorganização de um sistema. Ele disse também que o tempo só pode ser calculado tendo como referência essa desordem crescente.

Você arruma sua cama todo dia. Mas existe uma tendência natural dela se desorganizar, é necessário que você exerça um trabalho para mantê-la arrumada. Outro exemplo é o seu quarto, mesmo deixando-o intacto, a poeira se acumula sobre a mesa, seus livros mofam e as roupas do armário acabam por servir de alimento às traças. Nós estamos nesse momento oxidando a cada respiração e desfalecendo a cada metabolização do nosso corpo. 
Não muito convencido perguntei ao meu professor sobre as crianças que estão em formação e crescem se desenvolvendo cada vez mais. Tive como resposta que elas simplesmente desorganizam os alimentos ingeridos para se desenvolver, quebrando as proteínas e carboidratos... Se pensarmos bem, a vida se trata dessa relação, todos tentando lutar contra o tempo, se manter inteiros para não perecer. Seja na seleção natural, cadeia alimentar, intrigas no trabalho (mesmo na maioria das vezes não tendo consciência disso). Isso tudo só me fez lembrar de um verso do Marcelo D2 "Eu me organizando posso desorganizar". 
O professor vendo que eu fiquei muito interessado acabou desviando um pouco da matéria. Tomou como exemplo o Big Bang, a famosa explosão que dizem ter originado o universo que conhecemos. Afinal o universo está em expansão, acelerada ainda por cima. Pensei que talvez fosse por isso que cada ano que passa temos a sensação do tempo passar mais rápido. O Big Crunch é outra teoria que diz que após o universo alcançar seu tamanho máximo voltará ao seu ponto de origem. 
Os hindus diziam algo parecido na sua concepção sobre o surgimento de todas as coisas. Que cada respiração do deus Brahma corresponderia a expansão e contração do universo, que demoraria bilhões de anos. 
Seguindo o raciocínio do tempo passar na medida que o universo vai se desorganizando e se expandindo, meu professor explicou que quando ocorrer essa retração, o tempo voltaria. E completou dizendo que nós não teríamos como saber se estamos avançando ou voltando no tempo. Foi aí que eu me confundi mesmo. 
Não conseguia admitir essa idéia. Depois de questioná-lo ele tentou me explicar. Nós sabemos que estamos em um dado momento da história devido ao conhecimento que adquirimos ao nosso redor. De de acordo com as nossas lembranças nós podemos associar o nosso passado com a situação de agora. Nós passamos por A, B, estamos em C e esperamos ir para D. No entanto se estivermos voltando no tempo, poderíamos simplesmtente já ter passado por D mas esquecemos. Voltamos para C com a ingênua espectativa de estar evoluindo, sem se dar conta de que já pode ter passado por D, E, F... 
É possível então que estejamos todos vivendo em um mundo de ilusões, apenas com a sensação de ver o tempo passar, tomar decisões, enquanto na realidade o destino de cada um já foi selado há muito "tempo".
Já vi uma viagem parecida em um filme chamado Waking Life. Esse filme fala muito sobre sonhos e nos faz pensar sobre eles de maneira diferente. Porque realmente, enquanto um sonho está acontecendo ele parece real. Quem garante que você não está sonhando nesse momento? Comentaram que depois que alguém morre, dependendo das causas, o cérebro continua funcionando por algum tempo antes de "desligar" por completo. E associaram com aquela história de que antes de morrer as pessoas têm um flashback, como se fosse uma restrospectiva da vida toda. A ideia que o filme passa é ainda mais assombrosa: Quem garante que você já não é um idoso em seu leito de morte rememorando sua vida toda em um último delírio?
De fato esse debate me deixou abalado, em estado de choque. Isso porque chegamos a uma possibilidade científica que coincidiu exatamente com uma sensação que eu tive dias antes em relação ao sentido da vida. Se isso tudo realmente tinha algum propósito e algo em mim, de um empirismo muito forte dizia que não. Revivi esse momento de desilusão, de certo pânico naquela discussão aonde a "ciência" parecia reafirmar todo esse pensamento que vinha me perseguindo.
Disse ao meu professor que iria demorar um tempo para voltar a ver a vida como eu via antes. Para ser capturado novamente pelo raso mundo das coisas cotidianas. Pois estava meio aéreo com uma perspectiva externa à nossa realidade.
Perguntei pra ele o porquê disso tudo. Ele respondeu que novamente eu estava fazendo a pergunta errada. A física não estuda os "porquês", isso cabe à filosofia e à religião. O único "porque" que a física utiliza é o famoso "porquê não".
Também perguntei se não era desanimador depois de anos dedicados à física para entender o mundo dar de cara com essas ideias. Mas ele falou que não se pode fazer nada. Realmente nós não devemos ficar nos lamentando. Porque o mundo, para os que vivem nele, é real. 
Temos que tirar a melhor experiência dessa vida. Tanto das coisas boas como as ruins. Se estamos aqui por algum motivo é para termos experiência de certo. Estamos aqui para gozar a vida, nos permitindo  ser felizes. Segundo meu professor, comer bacon e fritar o cérebro jogando videogame também pode ser um bom ideal de vida dependendo da perspectiva. E eu concordo, quem sou eu pra dizer o contrário?

Erik Schnabel

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O grito


O medo é fundamental para a sobrevivência do ser humano. De maneira quase instintiva nos faz fugir do perigo. Já o pânico é um estado em que o indivíduo perde completamente a razão, por alguns instantes, se desconecta da realidade. Sob uma intensa cartase pode explodir, vomitando toda a angústia e agonia que até então pesavam nas entranhas.
A volta para a realidade se faz de pouco em pouco. Vários elementos representam esse "religar", como as coisas importantes para si e a necessidade de lutar por elas. Percebemos que na vida não vale apena só existir ou se lamentar. Temos que tirar de todas as experiências algo positivo e tentar enfrentar nossas próprias sombras, buscando sempre a evolução.




Erik Schnabel

quarta-feira, 6 de junho de 2012

A busca do ser humano pelo equilíbrio nos dias de hoje

O absolutismo monárquico acabou, ocorreu a acenção da burguesia e do proletariado. "Liberté, égalite e fraternité".
  Os antigos mestres artesãos, deixaram de ser donos do seu tempo. Pois a burguesia industrial, ávida por maiores lucros, menores custos buscou alternativas para maximizar a produção de mercadorias. Foi na idade moderna que surgiram métodos como o fordismo e o taylorismo.
Hoje em dia a servidão acabou, escravidão também, deixamos de obedecer a um rei mas passamos a seguir cegamente as ordens de um líder muito mais obscuro: A ganância.
Cédulas e moedas assumiram o papel da amizades e do respeito. Os meios substituíram os fins. Trabalhamos sem parar a vida toda juntando fundos para a aposentadoria. Felicidade passou a ser um mito e sacrificamos nossa saúde física e mental em busca de status social.
Platão, em "A república", sugeriu que todos trabalhassem de acordo com sua vocação. Instituímos uma república de fato, mas distorcemos valores fundamentais para uma vida equilibrada. Não estamos vivemos sob uma teocracia, ou um regime totalitário, mas não é muito diferente disso. Louvamos um deus de papel e trabalhamos por ele. Nossos governantes pregam a liberdade, mas nos amarram à um sistema impossível de se  desvencilhar. Bem vindos ao mundo capitalista. 
Nessa organização social existem as desigualdades. Privilégios e desvantagens entre os indivíduos. Nós acabamos esquecendo que quando alguém tem muito, existe outro que não tem quase nada. Até sob uma visão macro podemos observar que alguns países desenvolvidos e super organizados enriqueceram por meio da exploração de outros.
Nas circunstâncias atuais, um país subdesenvolvido ou emergente tem imensa dificuldade de oferecer boas condições de vida para toda a população. Saneamento básico, saúde pública, acesso a água potável e instalações elétricas infelizmente não fazem parte da realidade da maior parte da população mundial.
A educação em muitos países de situação precária não é prioridade, porque o investimento nessa área não gera lucro. Pensar a longo prazo é difícil para um povo com fome.
São consequências da industrialização e urbanização de países subdesenvolvidos o exôdo rural e a migração para as grandes metrópoles. Também devido às péssimas condições de vida no campo. Na maioria das vezes essa transição é conflituosa e desorganizada. Desse modo as grandes metrópoles não conseguem abarcar tantas pessoas e nem o governo consegue ateder às necessidades de todos.
Ocorre um aumento no desemprego e proliferam então as submoradias, favelas e moradores de rua.
Outro dos grandes problemas do cidadão comum de hoje é uma rotina massacrante. Seja no trabalho ou na escola, as pessoas estão sempre sob muita pressão.
Nos fazem crer que somos todos competidores ao invés de trabalharmos por um objetivo em comum. O individualismo é um conceito que se adéqua bem à nossa realidade. Nossa vida cotidiana está sendo moldada por vários fatores que causam grande impacto na psiquê humana.
Existem muitos distúrbios que começam na mente e acabam por afetar aspectos físicos do indivíduo. São elas as chamadas de doenças Psicossomáticas. A mente e o corpo têm uma íntima relação. Na maioria das vezes quem faz essa ponte são os mecanismos inconscientes.
A substituição da mão de obra no campo pela máquina no sec. XVIII causou um grande stress na vida dos trabalhadores. Assim como a constante obsolescência percebida em vários campos de tecnologia no ambiente de trabalho também é um grande indicador de stress nos dias de hoje.
Devido à explosão demográfica nas cidades, o número de carros também aumenta, o trânsito se torna insuportável, assim como a poluição sonora.
Para qualquer lado que viramos existe uma propaganda ou um comercial. É certo que a publicidade é essencial para o comércio e a livre concorrência mas chega um ponto que nossa mente fica saturada de tanta informação.   
Estresse ocupacional, Síndrome do pânico e Depressão são exemplos das consequências do nosso estilo de vida moderno.
No séc.XX, as drogas também passaram a ter um novo significado, não meramente curativa ou ritualística mas ligada à busca do prazer.
Visto por muitas pessoas como fuga de uma dura realidade, o uso de drogas aumentou nos últimos tempos. Irônicamente o uso indiscriminado de drogas pode tornar o usário mais vulnerável a outras patologias psiquiátricas.
Existem alternativas mais saudáveis aos famosos “tarja preta”. A própria medicina oriental apresenta algumas como a acumpuntura ou a medicina védica, que se integram com os vedas (os mais antigos registros conhecidos da experiência humana). Os orientais tratavam a saúde do corpo e da mente como uma só. Buscavam uma unidade com a natureza e todo o universo.
Uma higiene mental eficaz é uma boa defesa contra tantas agressões. Devemos reconhecer que hoje em dia existe um padrão de beleza idealizado e moldado pela mídia impossível de se alcançar. Nós temos que nos aceitar do jeito que somos e ter uma visão mais vertical em relação a vida. É sempre bom conversar consigo mesmo e buscar sempre o crescimento pessoal.
Um filósofo romano, Junius juvenalis, já dizia “mens sana in corpore sano” ou seja: mente sã corpo são.
Como nós não somos apenas mente, devemos também cuidar no nosso corpo. Afinal, ele é a ferramenta mais importante para a nossa sobrvivência sob as circunstâncias deste planeta.
Para manter nosso físico saudável, precisamos de uma boa noite de sono, uma alimentação equilibrada e praticar exercícios físicos regularmente.
Lembro que já li um artigo sobre uma pílula que afirmava reduzir as horas necessárias diárias de sono. Fiquei espantado com essa notícia. A mente humana é muito complexa, o sono existe por um motivo. Não será um medicamento que vai conseguir suprir essa necessidade. Inúmeras devem ser as consequências de seu uso longo prazo.
Disseram que o objetivo era para aproveitar mais o tempo acordado. Tenho certeza que só foi desenvolvido para no fim fazer as pessoas trabalharem ainda mais.
Como consequências da Revolução Industrial, houve também uma revolução agrícula, ou seja, uma modernização da agropecuária que, ao longo da história, foi possibilitando a transferência de pessoas do campo para a cidade, principalmente como resultado da mecanização da agricultura. Tendo em vista o suprimento de uma super população mundial, foram desenvolvidos os agrotóxicos e transgênicos. Mas devemos nos conscientizar que nem todos esses meios utlizados para uma maior produção de alimentos são considerados saudáveis. Até hoje não se sabe, de fato, quais são as consequências dos alimentos modificados geneticamente.
Devido à rotina frenética dos trabalhadores, hoje em dia, se tornaram muito populares os ditos “fast-foods”. Mesmo não sendo nem um pouco saudáveis, se adaptaram à rotina de milhões.
No Brasil, mais de 60% dos adultos que vivem em áreas urbanas não praticam um nível adequado de exercício físico. Boa parte destes números se deve ao famoso estilo de vida atual. Quando a maior parte do tempo é gasto assistindo TV ou usando o computador.
O luxo é bom até certo ponto. É verdade que a tecnologia tem avançado muito no últimos tempos e está tornando o dia-a-dia das pessoas mais fácil. Porém quando o luxo se tornando excessivo, passa a ser nocivo para a saúde. Quando o computador deixa de ser ferramenta, veículo de informação e se torna entretenimento pura e simplesmente acaba sendo mais danoso do que benéfico.
O sedentarismo associado a uma alimentação deficiente está gerando grandes problemas como a obesidade, hipertensão entre outros. 
Sabemos que tudo o que acontece agora conosco tem um motivo, seja histórico, biológico ou espiritual. Assim como tudo que fazemos nos dias de hoje pode acarretar em grandes estragos em nossa vida, na sociedade ou no mundo futuramente.
Cada vez que analisamos mais o modelo econômico que coordena nosso estilo de vida passamos a ver mais problemas, muitos relacionados à saúde. Por outro lado devemos reconhecer que também existem muitos aspectos positivos advindos do capitalismo.
Nenhum sistema é perfeito, mas cabe a nós fazer o possível para melhorá-lo. Na situação atual, o foco é o lucro. Devemos então, fazer mais como os orientais. Ter como foco o equilíbrio e o bem estar. Não só a saúde humana como a do mundo, de todos que nele habitam e reconhecer a nossa unidade com o cosmos. 






Erik Schnabel

quarta-feira, 21 de março de 2012

Reencontro




 Eu estava na estação de trem, em um café. Lia o jornal despreocupado com o horário. Porque meu trem só partiria em 3 horas e eu já estava pronto.
 A voz de uma mulher me chamou a atenção, era familiar, muito suave e delicada. Eu me virava de um lado pro outro tentando descobrir de onde vinha aquela voz. Finalmente a vi, de costas, conversando com um segurança. 
 "Será que é ela? Mas de dreadlocks?", pensei "aquela mesma garota que estudou comigo no colegial?!"
A moça deu uma risadinha, agradeceu ao segurança e se virou. 
 "Não pode ser... é ela mesmo!!"
 Nao sabia direito o que fazer, não sabia se lembraria de mim. Esperei pra ver se ela olhava, para então acenar. Ela passou reto. Resolvi chamá-la:
 -Tainá!
 Ela se virou surpresa, mas logo me reconheceu. Eu me levantei e fui comprimentá-la.
 ...Berlim, Londres, Nova Deli... Uau! Quantas viagens! E que coincidência nos encontrarmos ali, em uma estação de trem tão distante do Brasil. Eu tinha trabalho lá, ela apenas a intenção conhecer o mundo. 
Lá estava aquela menina que sempre foi tranquila e comportada, agora viajando a procura de novas perspectivas.
 A Tainá tinha uma certa inocência, mas de maneira alguma era ingênua (sempre foi esperta de mais para isso). Apesar de tudo, eu não esperava que fosse encontrá-la anos depois com essas ideias rebeldes. Quem diria?
 Eu tentava prestar atenção nas suas histórias (que de fato pareciam ser emocionantes) mas simplesmente não conseguia. Ela estava radiante...

Erik Schnabel


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O que é liberdade?

  Liberdade para mim é independência. Serei mais livre no dia em que morar longe dos meus pais. Quando não precisar mais gastar horas e horas, dia após dia enfurnado em uma sala onde o aprendizado se resume em: passar no vestibular ou em um concurso público. Não quero um emprego convencional, daqueles que me farão ter um colapso nervoso ou urticárias.
Hoje em dia a sociedade de consumo e a mídia querem moldar uma personalidade em mim que se encontra em fatores externos. Bom, Sócrates já dizia que todo o conhecimento nescessário já reside dentro do ser. Sem a devida cautela, podemos nos apropriar de ideias ilusórias provenientes dessas influências. O pior é que isso acontece com a maioria das pessoas, acabam por sacrificar a própria felicidade em busca de dinheiro e estatos social.
Serei mais livre se seguir a minha vida de acordo com a minha própria vontade. A minha pelo menos, é aprimorar e destilar a alma em busca do equilibrio. No momento em que me contentar com quem sou, não terei freios que me impeçam de crescer.
Somos um ser social, por isso devemos nos adaptar, nos subordinar aos princípios e ideais que regem esse convívio. Caso não aceite esses termos, posso até viver de forma reclusa. Porém sempre sujeito as leis da natureza e da física. Ou seja, no universo conhecido pelo homem, não existe total independência. Liberdade é um conceito abstrato e egoísta, pois tudo está interligado!

Erik Schnabel

Nada como a brisa da ladeira e um jump no lago pra refrescar as ideias!